Por Fabricio Duque
Uma das características intrínsecas
do Cinema inclui buscar o questionamento sobre o mundo em que vivemos. Em “Jornada ao Oeste” é
um exemplo de filosofia clássica. O novo filme, média-metragem de cinquenta e três minutos,
exibido no 64º Festival de Berlim, do diretor malaio Tsai Ming-liang (de “CãesErrantes”, “O Sabor da Melancia”), representa uma fábula-realista do elemento
tempo. Aqui, um monge tibetano (típico com sua “bata” vermelha) resolve “viajar”
ao ocidente contemporâneo, mas sem se “adequar” ao novo ambiente. Ao respeitar
seu universo temporal de sentir cada ação como se fosse última (e a mais
prazerosa de enaltecimento incondicional à simplicidade) é confrontado com a
pressa inexplicável da cidade grande. Seus movimentos “radicais” (de pausar o
tempo), de passos “penitenciais” (do sofrimento ao sentido da vida) em ritmo
coordenado, funcionam como se fossem imagens de uma câmera lenta teatralizada
(uma estátua viva), são contrastados com o cenário atual e se apresentam como
uma análise comportamental antropológica sobre a modernidade e seu “desenvolvimento”
(tirar a foto do diferente “extraterrestre” com celulares que “participam” como
uma extensão do corpo; imitar por um desejo momentâneo; e ou “passear” com
sacolas de compras diversas). O filme incomoda porque é permitido ao espectador
olhar para seu agir fútil de “acelerar” a própria existência e criando o constrangimento
pela impossibilidade de “parar e reparar” e de “estimular” o silêncio. A
narrativa sem diálogos de contemplação (poucos cortes e de poesia visual
angular com fotografia saturada com cores contrastadas ao “submundo”)
hiperdimensiona a reflexão existencial, explícito nas primeiras cenas de ambiência
introdutória, nos conduzidos de um “retiro” espiritual ao “abandono” do
universo nosso de cada dia, “documentando” a realidade por uma concretista
ficção. É uma obra de arte. Um retrato “confirmatório” do quanto nós estamos
perdidos, “manipulados” e alienados em nós mesmos. “Como uma estrela, uma
miragem, como a visão de uma lâmpada, como ilusões, gotas de orvalho, como
bolhas n'água, como um sonho, um relâmpago, um nuvem, assim é que cada um deve
ver o que lhe está condicionado”, finaliza-se com a mensagem prólogo. Concluindo,
não é um filme lento, “parado” ou “sem sentido”. Não. Apenas um tempo único que
nós meros mortais transformamos em correria / agitação. “Jornada ao Oeste” é o
terceiro filme de uma trilogia. "Walking on Water" e
"Walker", todos com o ator Lee Kang-sheng, foram os anteriores. Recomendado.