Crítica: Amantes Eternos

Por Fabricio Duque

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a crítica original realizada no Festival de Cannes

“Amantes Eternos”, em uma tradução brasileira “preguiçosa” é na verdade "Only Lovers Left Alive", de Jim Jarmusch, um cineasta americano, de cunho extremamente independente e que experimenta ângulos de câmera e narrativas, que traz a Cannes sua versão vampiresca do cotidiano real de um vampiro da atualidade. É uma metáfora à crítica de como o mundo de hoje está: chato. E os vampiros precisam conviver com isto porque “ganharam” uma longa existência, porém não eterna. É incrível como Jarmusch captura a essência ambiente (de existir o que se é) e a projeta na atmosfera do filme, “aprisionando” o espectador em um voyeurismo crônico e como uma possível vítima. O cúmplice que talvez seja o alimento em determinado momento. A vida dos personagens Tom Hiddleston, Tilda Swinton e Mia Wasikowska “gira” como um disco de vinil psicodélico e psicotrópico, utilizando-se de uma câmera que roda, roda e roda a imagem, entorpecendo, com clareza, sutileza, silêncio e espera, quem assiste. Assim, o diretor de “Sobre Café e Cigarros” consegue traduzir perfeitamente o universo dos vampiros, mostrando aos poucos hábitos sem o clichê característico dos filmes do gênero horror existencialista (que erra pouco – visto “Crepúsculo”, de Stephenie Meyer – mas erra). Aqui, há deboche, sarcasmo, picardia, entendimento perspicaz, aprofundamento existencial, cumplicidade interpretativa e uma excelente fotografia. É um filme encantador, que se conta pelo menos a fim de ganhar o mais sobre uma história de amor entre dois “vampiros” (palavra esta que nunca é usada no filme – nem uma vez) eruditos, que estão cansados da sociedade atual e profundamente incomodados com a evolução da humanidade. Jim Jarmusch buscou referência no conto “Os Diários de Adão e Eva”, obra satírica de Mark Twain, e resolveu trabalhar com iluminação baixa e lentes específicas, de modo que as imagens tivessem uma aparência mais próxima de um visual em película. Alguns dos muitos quadros de Adam: retratos de Jean Michel Basquiat, Nikola Tesla, Isaac Newton, Christopher Marlowe, William Blake, Franz Kafka, Edgar Allan Poe, Mark Twain, William S. Burroughs, Oscar Wilde, Samuel Beckett, Jane Austen , Emily Dickinson, Arthur Rimbaud, John Keats, Sitting Bull, Bo Diddley, Charley Patton, Robert Johnson, Patti Smith, Hank Williams, Jimi Hendrix, Billie Holiday, John Coltrane, Thelonious Monk, Johann Sebastian Bach, Nicholas Ray, Bruce Lee, Buster Keaton, Rodney Dangerfield e Harpo Marx, Tom Waits, Neil Young, Jay Hawkins e Iggy Pop, entre outros.