Crítica: Paz Para Nós Em Nossos Sonhos

Por Fabricio Duque

Há diretores no meio cinematográfico cinéfilo que causam o frisson da ansiedade a cada novo filme que é lançado. O lituano Sharunas Bartas é um deles, e que a autoralidade do conceito pelo elemento construído do interno ao externo. O cineasta de “Três Dias”, “Liberdade”, “O Nativo da Eurásia”, e “Seven Invisible Men”, já foi ator em “Bastardos”, de Claire Denis, e “Pola X”, de Leos Carax, e interpreta o pai em seu recente, “Paz Para Nós Em Nossos Sonhos”, que usa o campo como refúgio e fuga da cidade. A simplicidade bucólica (de reconstruir forças e resolver as pendências disfuncionais da existência) é conduzida pela naturalidade livre das micro-ações cotidianas (de se guardar a comida na geladeira; um garoto que rouba um caqui; o nadar pelado; o ato de se alimentar) e pela observação contemplativa (de uma terapia individualista e silenciosa), sempre tendo a natureza como aliada e como essência de um recomeço. A câmera passeia com fluidez pela floresta, pelos veados que correm, pelos tiros, pelas lembranças-memórias em fitas arquivos, pela desistência de uma personagem no meio de uma apresentação em um concerto musical (libertando-se talvez pelo erro proposital, experimentando defesa e cumplicidade). Bartas equilibra pelo tempo, este o real protagonista. Há quem diga que é um filme sobre o nada. Não. Pelo contrário, é das pequenas miudezas-detalhes-expressões-gestos que o tudo se faz presente, e consequentemente é aprofundado. A sinopse nos conta que é um dia de verão. Um homem, sua atual esposa e filha chegam em sua casa de campo no fim de semana. Desde a morte de sua mãe, a filha de 16 anos agora vive com seu pai que não se dedica muito em passar o tempo com ela. Ele está cansado de sua rotina diária no trabalho e se encontrar em depressão. Sua esposa, um violinista, perdeu a alegria de viver. Ela está perdida entre a música, o amor e a carreira. É inquestionável que se eles se amam, porém as relações estão tensa e à beira de um catártico colapso. Quando mais o espectador embarca na história, mais é consumido, como um co-dependente voyeur, na própria regurgitação alheia da análise psicanalista, entre debates filosóficos sobre o mal, este que metaforiza as dificuldades e percalços do crescimento em meio a tragédias imutáveis. E assim transpor barreiras a tão utópica felicidade e a tão ingênua paz do espírito. O longa-metragem foi selecionado a Quinzena dos Realizadores do Festival de Cannes 2015 e exibido no Festival do Rio 2015. Recomendado.