Crítica: Toni Erdmann

Por Fabricio Duque
Direto do Festival de Cannes
14 de maio de 2016

O filme romeno "Toni Erdmann”, da diretora alemã Mauren Ade (de “Alle Anderen”), que concorre a Palma de Ouro no Festival de Cannes 2016, é muito mais que um simples retrato da relação entre um pai “brincalhão”, um “leve" ator "engraçado em período integral" (por pregar peças nos outros - deixando uma atmosfera silenciosa constrangedora - e inventando personagens com maquiagens e fantasias; que prepara musicais não convencionais com jovens; e que transparece uma “carência" de atenção), e sua filha "tensa", uma empregada que busca ascender na empresa que trabalha, mas que encontra adversidades em seu caminho (como a vista da área pobre da cidade). O longa-metragem de duas horas e quarenta e dois minutos busca camadas psicológicas de aceitação e redenção de abandonos passados. A narrativa foge da estrutura de gênero por transcender a definição objetivada. É uma comédia de situações criadas pelo protagonista-pai, que interfere, "enche o saco da filha", mas na verdade se faz onipresente para ajudá-la neste complicado momento (mas quase a deixa louca). Na maioria dos momentos, cava o constrangimento, como no momento da festa, que literalmente, o espectador não consegue parar de gargalhar por causa dos recorrentes “non stop” instantes. Há quem ache que o filme pode parecer bobo, mas não é. Pelo contrário, aprofunda com um ritmo “easy going” de ser e mitigando toda e qualquer possibilidade de pretensão, mesmo passando por cenas escatológicas “flatulentas”, e pelo “amante romeno”. É tão espontâneo (como o alívio quando o pai “chato" vai embora) que o espectador assiste em tela as ações que faz quando ninguém está olhando, como por exemplo o comportamento ao chegar em um hotel (e olhar tudo). O pai (o ator Peter Simonischek) “pegadinha”, inventa histórias, interpreta e improvisa as consequências, com seu peculiar “dente postiço”. A filha (a atriz Sandra Hüller) precisa aceitar as manias e seus “métodos" não ortodoxos dele e “entra no jogo". Para se ter uma ideia, o filme é constantemente interpelado por palmas e risadas (como a constrangedora cena catártica-liberdade com música de Whitney Houston (“The Greatest of All”), e ganhou a nota (e média) da imprensa internacional de 3.8 de 4.0. Definitivamente é o favorito. O longa-metragem intercala diversão e drama, superficialidade e aprofundamento, de uma forma magistralmente equilibrada. "Toni Ederman” é engraçado, inteligente, perspicaz, leve, divertido, idiota, estúpido, constrangedor, catártico, sensorial, sinestésico, insano, surreal, espontâneo, naturalista e não perde o “humor”, a humanidade e a solidariedade. Recomendado.