Crítica: Rua Cloverfield 10

Por Fabricio Duque

“Rua Cloverfield 10” não é a continuação de “Cloverfield – O Monstro”, e sim, uma história-sequência que acontece paralelamente ao anterior situado em New York (informação esta e outras “dicas” explicativas do site Cloverfield Clues). O leitor-cinéfilo-espectador pode continuar despreocupado, pois aqui não será revelado nenhum “spoiler”. O longa-metragem, dirigido pelo estreante Dan Trachtenberg, é um típico exemplar de gênero mistério-apocalipse-catástrofe de ficção científica, que conta com a produção de J.J. Abrams e tem no elenco John Goodman (que já está cotado - extraoficialmente - mais no “achismo" mesmo - para concorrer como Melhor Ator no próximo Oscar). Inicia-se por um preâmbulo de ambiência-elipse-explicativa de uma personagem que “abandona" seu namorado (a voz do ator Bradley Cooper) com detalhe do anel “esquecido" na mesa, indo de um lugar a outro, motivada talvez por estranhos acontecimentos até que sofre um acidente (o público é literalmente pego de surpreso) em uma estrada e acorda em um porão “quarto"-“cárcere" privado à moda de “Jogos Mortais”. Assim, o roteiro claustrofóbico embarca em uma confusão perceptiva de que a “vítima" possa ter sido sequestrada e ou protegida de um ataque apocalíptico-radiológico, corroborada por uma trilha sonora de suspense de filme clássico. Será o desconhecido salvador, um lunático obcecado? Um mentiroso psicopata com uma excessiva potencialidade de elevar iminentes desgraças? Uma maluca teoria da conspiração? Um protetor bonzinho e carente (a la “A Vila”, de M. Night Shyamalan)? Um “Deus" que busca perpetuar a raça humana, e quer merecimento? É essa a grande maestria do filme: manipular possibilidades maniqueístas, tudo em prol da sobrevivência. Essa jovem (a atriz Mary Elizabeth Winstead) “encarna" a “invencível" existência “MacGyver" de ser pelas infinitas e geniosas decisões de emergência. O homem (o ator John Goodman) diz ter salvo sua vida de um ataque químico que deixou o mundo inabitável (e o ar contaminado), motivo pelo qual eles devem permanecer protegidos no local “analógico" (impossível não referenciar à história dos “Três Porquinhos” e da casa-bunker “indestrutível” (com aquaponia - sistema fechado que produz plantas e peixes). A solução é a integração social da nova “família”. Eles conversam sobre os arrependimentos do que não fizeram - como tatuagens, por exemplo e assistem a um filme “fake-ficcional” (feito para a trama) em VHS chamado “Cannibal Airlines” (baseado no filme “Alive”, de Frank Marshall, de 1993; brinca-se que será a continuação - J.J. Abrams riu durante a entrevista - será?). Aos poucos, dicas são inseridas e reviravoltas produzidas (uma camisa francesa, fotos dentro de um livro). “As pessoas são criaturas estranhas”, diz-se entre indicativos de paranoia extraterrestre, desencadeando sensações de aflição, tensão e desespero. “Rua Cloverfield 10” é entretenimento de primeiro, prendendo a respiração do espectador bem à moda de “Lost" (com suas “possíveis realidades”). A protagonista, desconfiada da história, tenta descobrir um modo de se libertar — sob o risco de descobrir uma verdade muito mais perigosa do que seguir trancafiada no bunker. E o final, pasmem, pode ser considerado uma película de “feminismo-heroico-patriótico”. Durante a produção, o filme recebeu os títulos de The Cellar e Valencia. Recomendado.