Crítica: O Escaravelho do Diabo

Por Fabricio Duque

“O Escaravelho do Diabo”, baseado na obra clássica literária homônima infanto-juvenil da mineira Lúcia Machado de Almeida que integrou a Coleção Vagalume, buscou iniciar sua jornada investindo em uma ainda recente plataforma midiática (a prévia exibição do filme - antes da estreia oficial - no “quarto do líder” do Big Brother Brasil, servindo como um “teste de audiência” de auto-promoção, visto que uma dos produtores, a Globo Filmes, é um dos “braços" da Rede Globo (canal televisivo em que aconteceu a exibição - não integral aos telespectadores - apenas aos “contemplados” com uma das provas do programa). Mas foi no cinema propriamente dito que o lançamento aconteceu de verdade. Dirigido pelo estreante em “filmes de cinema”, Carlo Milani, mas famoso pela incursão em minisséries e novelas da televisão (“América”; "Amazônia: De Galvez a Chico Mendes”; “Além do Horizonte”), é inevitável que “O Escaravelho do Diabo” tenha uma “pegada" mais da “telinha" que da “telona”, com seus gatilhos comuns característicos (de explicar minuciosamente os mínimos detalhes - tanto na ação visual, quanto no discurso de seus personagens) e artifícios de “salvação" da trama. A narrativa, assumidamente à moda de “Seven - Os Sete Crimes Capitais”, de David Fincher, tenta abraçar “As Melhores Coisas do Mundo”, de Laís Bodanzky com "Houve uma Vez Dois Verões”, de Jorge Furtado, porém mitigando a espontaneidade do humor e inserindo elementos típicos do gênero de suspense-terror (seus ruídos, sustos alegóricos à moda de “Trash: A Esperança Vem do Lixo”, de Stephen Daldry). “O Escaravelho do Diabo” está mais próximo de “O Segredo dos Diamantes”, de Helvécio Ratton, e tem sua indiscutível maestria na interpretação de seu protagonista-mirim, Thiago Rosseti, um estreante, que domina totalmente com precisão, técnica, naturalidade, desenvoltura, equilíbrio e ritmo a arte da encenação. Definitivamente, um excelente ator promissor, de doze anos de idade, que já provou a vocação que tem, e que vivencia a vida de um pré-adolescente (que fala com o mãe “livre" no Skype, e que é “viciado" nos episódios de “C.S.I” (sobre investigações criminais). A sinopse nos conta que a pequena cidade de Vale das Flores é marcada por um crime surpreendente: o jovem Hugo Maltese (o ator Cirillo Luna) é encontrado morto com uma antiga espada encravada no peito. O detalhe é que, antes de morrer, ele recebeu uma estranha caixa com um escaravelho dentro. Logo outra vítima é morta, após receber uma caixa semelhante. O delegado Pimentel (Marcos Caruso) e o garoto Alberto Maltese (Thiago Rossetti) começam a buscar este assassino em série, que escolhe seu alvo com uma característica em particular: pessoas que nasceram ruivas “legítimas". O filme busca a atmosfera nostálgica de atemporalidade datada (porém trazendo o espectador ao tempo presente de agora - por causa das novidades tecnológicas). É um típico garoto de sua idade: curioso, hiperativo, aventureiro, tímido, apaixonado secretamente por sua amiga, que imagina o mundo por um jogo de videogame. Porém, sinceramente, mesmo com a ótima interpretação de Thiago, o longa-metragem não se sustenta, talvez pela recorrente sucessão de clichês fáceis e ultra-mega explicativos, como saídas definitivas (o delegado com DDA - “cada caso é especial”; “as flores vermelhas que incomodam as outras brancas”; a narração do vilão (“as mil caras do diabo”); tudo reverbera um roteiro frágil (e “revoltas” contra Deus; “cornos soltos”; “bezouro bizarro"). “O legista tem que ser mudo; e jornalista, cego e surdo”, diz-se (confesso que eu ri). Concluindo, um filme que caminha pela obviedade das resoluções, e assim firmando e se definindo como uma obra exponencialmente infantojuvenil. Como foi dito, indiscutivelmente, “O Escaravelho do Diabo” necessita ser assistido pela magnífica interpretação de Thiago Rosseti e de sua amada, Bruna Cavalieri, e de seu policial Almeida (Augusto Madeira).