Crítica: O Dono do Jogo

Por Fabricio Duque

“O Dono do Jogo” tem viés de narrativa-novela ultra patriótica-nacionalista, criando metáforas com a situação da Guerra Fria, o eterno embate entre Estados Unidos e União Soviética, ao abordar a vida do maior jogador de xadrez americano do mundo Bobby Fischer, que com suas partidas “dominou" a “terceira guerra mundial”. O roteiro, pululado de gatilhos comuns padronizados e engessados, baseia-se na história real do personagem gênio “homenageado” (comparado a Mozart), que sofria de deterioração bipolar da saúde mental perturbada, com surtos psicóticos (contra o comunismo), obsessivos (medo da rejeição da família e de seu país), esquizofrênicos (devido à intolerância ao ser humano) e com uma imersão quase autista extremada e potencializada ao próprio mundo interior individualizado (“não ouve ninguém”). A maestria de seu personagem principal era “simplificar" as jogadas "certas" (vendo o xadrez “somente pela teoria e memorização”). O longa-metragem poderia ter tido um resultado satisfatório, caso não “sofresse" de uma direção fragilizada e preguiçosa, utilizando-se de todo e qualquer cliché ambulante e possível para que pudesse se manter equilibrado no comodismo aceitável (sem experimentações e ou novidades) do grande público e nivelado por baixo (pela estrutura palatável hollywoodiana). Trocando em miúdos, é bobo, infantil (talvez por querer personificar em tela o gênio de seu personagem) e não respeita a inteligência do espectador, reiterando excessivamente a normalidade massificada e recorrente a fórmula comercial do sucesso. É um filme que segue à risca o gênero clássico-biográfico, com suas reviravoltas ensaiadas, diálogos arquitetados e dramáticos de efeito, edição fragmentada ao videoclipe, assim é impedido o aprofundamento dos personagens, soando apenas vazios-momentâneos, sem construir um elo-ponte emocional e ou sentimental e ou amigável. O que recebemos é uma história apagada, muito também por causa das interpretações de seus atores, incluindo o protagonista Tobey Maguire, que não se esforçam para transparecer químicas forçadas, superficiais e de uma cumplicidade de “psicologia popular”. É indiscutível o descuido das preparações, sendo preciso correr a fim de que as “peças" sejam encaixadas e que o “xeque mate” satisfatório aconteça, porém, é exatamente o contrário. No quesito “vitória" cinematográfico, “O Dono do Jogo” perde de “lavada”, claro que com inúmeras exceções-sacadas, como por exemplo, a história do mundo da época em rápidas cenas-flash intercaladas com as jogadas de um jogo de xadrez. É uma típica novela desajustada com atmosfera de cinema, buscando tentar explicar (humanizando) o vitimismo ingênuo, excentricidade idiossincrática e a agressividade mimada de Bobby. O título original “Pawn Sacrifice” (O sacrifício do Peão) representa uma jogada no xadrez de abrir mão propositalmente de seus peões para construir uma jogada de maior impacto. A sinopse nos conta que os soviéticos eram considerados os reis do xadrez e Boris Spassky (Liev Schreiber) era tido como invencível. Mas eis que Bobby Fischer (Tobey Maguire), jovem fenômeno norte-americano, o desafia no Campeonato Mundial de 1972, em plena Guerra Fria. EUA e URSS se enfrentam no tabuleiro em Reykjavík, capital da Islândia, e apenas um enxadrista sairá vencedor. Concluindo, “O Dono do Jogo” “abraça" uma tentativa de transmutar com um “pseudo” lado independente (na forma) a veia intrínseca-essencial-sensacionalista-agitada do cinema comercial que faz de tudo para ganhar, mas que na maioria das vezes só recebe um “xeque mate”.