Crítica: Deadpool

Por Fabricio Duque

Há muito tempo as histórias de super-heróis deixaram de representar apenas traduções cinematográficas dos fantasiosos quadrinhos, e ganharam contornos de psicologia-metáfora-realista por humanizar sentimentos, adjetivos, idiossincrasias, desejos, fragilidades, limites, afãs protetores (para “sair bem na fita”), necessidades e infinitas possibilidades de sobrevivência (física e mental). Em “Deadpool”, essa tendência é potencializada ao extremo, por “respeitar” e "permitir" que um “herói” tenha suas falhas de caráter, estimuladas talvez por patologias clínicas de intolerância ao indivíduo que “divide” sua presença na Sociedade (que nada mais é que seres humanos que “suportam” o convívio com outros seres humanos) de carência, fuga e defesa. Assim como “Meu Malvado Favorito”, que sente um “gostar do cheiro da ilegalidade”, há um “conforto” de “pseudo” crença na ideia de que ao se fazer o “mal" ou ao ser um implacável “justiceiro" (justiça pelas “próprias mãos”) consiga-se sair (desapegar) por um momento da “boa" padronização do ser humano (uma hipócrita definição que estimula a submissão para que consequências não sejam vividas – tampouco sentidas), “ditadura" esta massificada e esperada como modelo de sobrevivência “alienante” da felicidade “pão e circo”. Aqui, em “Deadpool”, dirigido pelo americano Tim Miller (de “Scott Pilgrim Contra o Mundo”) há inúmeros subterfúgios invertidos: o humor sarcástico “insensível” do “anti-herói” principal; o auto-deboche “escrachado” (que é dito sem pudor, sem crivo de racionalização, mal lapidado, extravagante, sem panos mornos; explícito nos créditos da abertura que diz que o filme é feito e produzido por “babacas”); a música nostálgica dos anos oitenta (do grupo musical Wham! – antes da carreira “solo” de George Michael) – também uma forma de picardia por “infantilizar” com a passionalidade subjetiva o comportamento daquele que não deveria transparecer vulnerabilidade (sua vida sexual com sua “cúmplice” parceira que o “insere” muito mais que um simples “fio terra” – no quadrinho original, Deadpool é bissexual e livre de preconceitos, tanto que na continuação do filme já foi anunciado pelos produtores que ele terá um namorado); a tagarelice politicamente incorreta e não ortodoxo do protagonista; a quebra ritmada na edição com intervenções interativas (de conversa com o espectador); as infinitas referências ao universo pop (com suas piadas, sacadas e alfinetadas críticas; e também sem deixar de reiterar o próprio gênero com suas explosões, perseguições, “tiro, porrada e bomba” e sem deixar de enaltecer o patriotismo ultra nacionalista. Percebe-se no roteiro um “mergulho” em camadas e subcamadas político-social de uma “crise” individual atual, que a única “solução” aparente é um soldado moldado à violência e que não se importa com o caos-destruição. Sim, há também a manipulação de sua aceitação pelo amor incondicional de sua namorada-companheira. No final, tudo mesmo é sobre a proteção da família. Neste caso, qualquer “valendo” qualquer uma. A sinopse nos diz que o ex-militar e mercenário, Wade Wilson (Ryan Reynolds) é diagnosticado com câncer em estado terminal, porém encontra uma possibilidade de cura em uma sinistra experiência científica. Recuperado, com poderes e um incomum senso de humor, ele torna-se Deadpool e busca vingança contra o homem que destruiu sua vida. Concluindo, um filme da Marvel, que recorre direta ou indiretamente a “X-Men”, “Kickass”, “Wolverine”, “Guardiões da Galáxia” e talvez por isso consiga até gerar uma nova definição de gênero cinematográfico. Recomendado.