Crítica: Zjednoczone Stany Miłości - United States of Love

Por Fabricio Duque
Direto do Festival de Berlim
19 de fevereiro de 2016

A máxima de que “os últimos serão os primeiros” se adequa completamente neste texto sobre o filme polonês “Zjednoczone Stany Miłości - United States of Love”, de Tomasz Wasilewski (de “In The Bedroom”, “Floating Skyscarpers”), e integrante da seleção competitiva oficial do Festival de Berlim 2016, que “roubou” a atenção na sessão de imprensa hoje pela manhã. O longa-metragem é um retrato-radiografia sobre a solidão de “complexas" mulheres. A narrativa, em estrutura de cinema romeno com Dogma 95 (com suas ações espontâneas, naturalistas, livres, mitigadas de tabus em uma câmera quase documentário e que segue proximamente as personagens, ora com fotografia panorâmica), segue o gênero de filme coral, tendo as histórias cruzadas de personagens que se esbarram, mas que cada uma das protagonistas tem sua trama (vida própria, manias, desejos) igualmente aprofundada. O roteiro é traduzido pela sutileza, sensibilidade, praticidade, racionalidade e objetividade as sensações desses “insatisfeitos" seres femininos. Há a professora de uma academia de ginástica (que precisa ser radiante e alegre todo o tempo - fã de Whitney Houston). Há a que trabalha em uma locadora de vídeos, se arruma, faz sexo instintivo e obrigatório (tendo outro homem em sua mente - um padre para ser mais exato) com seu marido, mas age com estranheza e uma constrangedora-altiva incomunicabilidade, talvez pela rotina de seu casamento. Talvez não. Os detalhes transformam-se de insinuantes sugestões para explícitos indícios “plantados" da desconfiança. Há outra, submissa, que “empurra com a barriga” um relacionamento depressivo com um homem casado (“Puta? Mas você não é minha amante?”). Há a outra que vivencia uma vida idiossincrática e que “acorda" para colocar em prática o desejo pelo objeto-vizinho, metaforizando a figura da Madonna - lembrando o filme . E uma última é inserida que busca uma carreira de modelo. Elas, quatro mulheres, que vivem em uma pequena província, encontram-se em um estágio irritadiço, bipolar, de tristeza, e buscam a fuga na pauta do sexo (ou pelo sexual platonismo). É um estudo-crônica da sociedade polonesa, que tenta se redefinir após anos de estagnação. Escolas mudam de nome, abstinência vira desejo, vídeos pornôs (adultos) são “consumidos" e a televisão repete imagens do ditador Ceausescu. Elas querem “experimentar" suas liberdades, mas não sabem como, e assim saem do equilíbrio. O longa-metragem envolve o espectador de tal jeito, que nós nos tornamos cúmplices visuais. Concluindo, um filme preciso, afiado, seguro, maduro, em que as personagens “recebem" na mesma moeda a forma que agem. Saem da linha. Apanham. Recomendado.