Crítica: Taxi Teerã

Por Fabricio Duque

“Taxi Teerã”, vencedor do Urso de Ouro do Festival de Berlim 2015, prêmio máximo deste festival, é o novo filme do cineasta iraniano Jafar Panahi. Suas obras foram consideradas subversivas, sua coleção de filmes apreendida por ser tachada de “obscena”, sua casa invadida, ele detido oitenta e oito dias (fazendo greve de fome) e impedido de comparecer ao Festival de Veneza. Tudo por apoiar o candidato oposicionista Mir Hussein Mussavi na eleição presidencial de junho de 2009. Também foi acusado de fazer um filme sem autorização e de incitar protestos oposicionistas. O diretor celebridade dos sucessos “O Balão Branco”, “O Círculo”, “Fora de Jogo” e “Ouro Carmim” em seu país, está agora exilado em seu próprio país. Mas isto não impede que seus filmes “sem autorização” apresentem o “realismo sórdido” de seus “personagens reais” e que critiquem o ensino “acadêmico-governamental” de que só os filmes “distribuíveis” (“não genéricos”) são permitidos e favoráveis à moral e aos bons costumes sociais. O termo adjetivado, estimulado nas ações de futuro de uma criança (a sobrinha “personagem" do diretor “personagem") que objetiva exibir suas produções em festivais locais (mais preocupada com o filme que com os valores maniqueístas), é dogmático, cujas regras (que são apenas para filmes e não para vida real; e anotadas em um caderno do Angry Birds vão de encontro com tudo o que o próprio diretor acredita na arte cinematográfica) podem ser listadas como respeitar o véu islâmico; nenhum contato entre homens e mulheres; evitar a violência; evitar o uso de gravata e nomes iranianos para personagens bons; dar preferência aos nomes sagrados dos profetas islâmicos; não abordar questões políticas e econômicas; usar o bom senso (da auto-censura); e não mostrar a realidade (ela diz que não entende a diferença e fica confusa). Aqui, Jafar (que pensa “que todos os filmes devem ser vistos e o resto é uma questão de gosto”) questiona de forma anárquica sua sobrinha e apresenta um passeio pela moralidade massificada (de preconceitos enraizados); pela geografia das ruas e lugares; pela sobrevivência de indivíduos “espertos” (e abusadamente ingênuo); pela compra ilegal de filmes pirateados de gênero autor; pela dificuldade de um estudante de cinema em encontrar um tema para um curta-metragem, pelo drama dos vitimados (pela violência); pelo sincretismo religioso de senhoras que creem em peixes “sagrados”; pelo amigo que não encontra há anos (e que diz que a “cara de um ladrão se parece com qualquer um”); pelo menino que vive catando lixo e que pega dinheiro no chão caído do bolso de um noivo que está tirando fotos para o casamento; pela senhora das flores (rosas) que confia “em pessoas do cinema” e que conta sobre a história de alguém em greve de fome na prisão (pessoal) e pelo imaginário concretista dos tipos que compõem esta sociedade contemporânea e que não compreendem a “realidade”. “Taxi Teerã” flerta com a ficção teatral e a realidade amadora. Este hibridismo “disseca" a atualidade do Irã. Um filme que dá preferência a seu tema, “desraizando" conceitos, achismos, verdades, lógicas, política nacional, costumes locais, liberdade de expressão no cinema e “sem cartão de memória” da câmera que apenas vê e documenta, mas que perde a prova de existir. Tudo dentro de um táxi, um veículo que transporta passantes e “turistas” do momento. "Nada pode me impedir de fazer filmes, mesmo sendo 'chutado para escanteio' eu conecto-me com meu eu interior e, em determinados espaços privados, apesar de todas as limitações, a necessidade de criar se torna mais que um desejo”, finaliza o diretor. Recomendado.