Crítica: Norte, O Fim da História

Por Fabricio Duque

Em “Norte, O Fim da História”, uma parábola com mais de quatro horas de duração sobre princípios morais de indivíduos sociais, o cineasta filipino Lav Diaz, que já tem como característica marcante realizar filmes longos (com quase onze horas de duração, como é o caso de “Evolução de Uma Família Filipina”), busca mais o encontro com a cidade grande contemporânea e assim se aproxima da cinematografia de Brillante Mendoza, pelo realismo e pela agilidade da narrativa. Agora, a contemplação é traduzida pelos ações aceleradas de seus personagens, que são influenciados pelo meio agitado da metrópole, com suas dificuldades e seus percalços de sobrevivência. Com seus erros judiciais e suas utopias acadêmicas. Aqui, a trama nos confronta com duas realidades, suas possibilidades, escolhas. Um exaspera-se com a vida que tem. O outro resigna-se. Um tem saúde (e não trabalha). O outro quebrou uma perna (e está impossibilitado de trabalhar). Um opta por matar premeditadamente o “problema" à sangue frio. O outro busca resolver com conversa, pedidos solidários e explosões irracionais passionais. Um salva a própria pele (mas não a mente). O outro é preso. Um sofre a culpa à moda de “Macbeth" (indo literalmente à loucura). O outro conserva ser “gentil e prestativo”. Um perde-se completamente. O outro não aceita a condição que se encontra, mas também não se rebela. Um “paga" com violência, perpetuando erros e surtos. Já o outro “paga" com o bem “sem olhar a quem”. Um não tinha nada a perder (vivendo altivamente com ideais teóricos anti-capitalistas - mas sempre precisando do dinheiro). Um tinha a quem pedir mais grana. O outro não. Um ainda precisou de uma agiota sem misericórdia (por escolha “folgada" de não trabalhar e optar pela diversão sem limites). O outro também precisou da mesma agiota, porém por única opção. A “emprestadora bancária a juros" é o elemento que une os dois protagonistas, seus amigos e familiares desta narrativa de gênero filme coral. Um enlouquece. O outro, apesar de todas as reviravoltas não favoráveis, eleva mais o espírito. “Norte, O Fim da História”, como foi dito, é uma parábola, uma fábula existencialista, que mostra a mensagem que na vida não há apenas uma solução e que a decisão pode ser influenciada pela condição maniqueísta de cada um. É um longa-metragem, com estrutura de romance-novela, sinestésico, porque insere o espectador na abordagem concretista, estimulando nossos questionamentos de moralidade, ética e da pergunta retórica “o que você faria?”. Concluindo, um filme altamente recomendado, e que prende a quem assiste apesar do tempo longo de duração, principalmente pela edição imagética, orgânica, humanista, midiática, de verborragia analítica e de silêncios personificados. Um grande filme grande. Foi selecionado Este filme foi selecionado para a mostra Un Certain Regard do Festival de Cannes 2013. Foi a apresentação oficial das Filipinas para a categoria de Melhor Filme Estrangeiro do Oscar 2015. Ganhou o prêmio de Melhor Filme no 1º Festival de Cinema de Pancevo, em 2014, na Sérvia. A declaração do júri relata: "O filme filipino expõe a influência que as tensões não resolvidas e catastróficas das relações e processos sociais modernos têm sobre o indivíduo e seus sentimentos de ética, justiça e responsabilidade. O diretor Lav Diaz confronta as questões submetidas por Dostoievski em "Crime e Castigo", com conceitos ideológicos contemporâneos e diferentes. Usando uma linguagem específica e original (takes de longa distância, atuação autêntica e quase documental, uma narrativa sugestiva), "Norte" consegue contar uma história épica e chocante, que denuncia a civilização contemporânea”.