Crítica: Genius

Por Fabricio Duque

Direto do Festival de Berlim
16 de Fevereiro de 2016

Nosso site acredita na máxima de que não todos os filmes devem ser vistos, seguindo a crença do diretor iraniano Jafar Panahi, mas é muito difícil defender “Genious”, do estreante em um longa-metragem, Michael Grandage, que integra a competição oficial do Festival de Berlim 2016. Baseado em um história verdadeira na biografia “Max Perkins: Editor of Genious” (de A. Scott Berg), com fotografia pastel-nostálgica-época, opta por seguir fielmente à risca todas as características palatáveis e óbvios gatilhos comuns para contar a história do brilhante homem que escolhia (e até interferia) na escolha dos melhores livros, enfocando na iniciação profissional do escritor Thomas Wolfe (que deve estar se contorcendo no túmulo se seu fantasma assistiu a sessão “homenagem” e se arrependido de ter escrito o primeiro livro “único" que foge do "normal"). Nenhum clichê escapa (câmera lenta, gestos de efeito, interpretação teatral, forçada, circense e “gaiata” (de reações patéticas em que percebemos as tentativas desastradas da interpretação anti-naturalista - que nem seu time famoso de atores Jude Law, Colin Firth, Nicole Kidman, Laura LInney, Guy Pearce, salva o resultado da “ladeira à baixo"), trilha-sonora sentimental, diálogos em tom exagerado e disfuncional, narração dramática manipulada à emoção e que em uma cena a paz é encontrada no closet da casa) neste clássico novelão romanceado hollywoodiano (como a filha que diz “não gosto de filmes e sim de livros”). Aqui, tudo é fácil, sem conflitos, e a personalidade de Wolfe é traduzida como acelerada, hiperativa, passional, "overeacted", intensa, viciada em escrita e de uma liberdade sem limites, que escreve rápido cinco mil páginas de um livro, negociando parágrafos e partes para publicação, aprendendo a técnica de concatenar as ideias no papel, usando adjetivos perfeitos (pululado de variações e camadas) para definições exatas sobre o que quer dizer e que encontra na esposa, uma cúmplice na loucura. Como é recorrentemente dito, há sempre exceções, que vencem a provação e fornecem um satisfatório alívio, por exemplo, as cenas de jazz sessions ao juntar Henry James (“confortável e família”) com Gorilla, cuja união é o tom de Tom Wolfe; e o embate existencialista-literário com Scott Fitzgerald. E só. Porque depois descamba, principalmente pela única lágrima que cai de um rosto que não chora. É tão sentimental e açucarado, que chega a ser diabético. Na verdade, o filme não há nada de genioso e sim de preguiçosamente comum.