Crítica: Labirinto de Mentiras

Por Fabricio Duque 

“Mortal é o silêncio”, frase que praticamente resume o filme alemão “Labirinto de Mentiras”, estreia na direção do italiano Giulio Ricciarelli, sobre o não esquecimento dos horrores cometidos no campo de concentração de Auschwitz, na Polônia, lugar que eram mandados os judeus (mais de um milhão assassinados). O longa-metragem ambienta-se em Frankfurt, 1958. Um jovem advogado-procurador, “novato", entusiasta, “ambicioso", que trabalha com multas de trânsito, busca “fazer o bem”, sendo humanista nas questões da lei. Sua curiosidade é despertada quando um “possível" sobrevivente a “maior catástrofe da humanidade" encontra seu “algoz" nazista nas ruas de uma Alemanha “esquecida”, “silenciada" e alienada (devido a “desnazificação” - gerando um passado longínquo, desconhecido, "disfarçado" e visto como “histórias criadas pelos vencedores"). A narrativa, em tom denúncia-altamente “mea culpa”, objetiva “recordar" o início das investigações aos culpados. “Vocês, alemães, eram todos nazistas. Se amanhã chegassem marcianos, virariam verdes. Não seja ingênuo. Você acha que todos os nazistas sumiram depois da queda de Hitler?”, ataca-se. Nosso protagonista (o ator Alexander Fehling, de “À Espera de Turistas") “atiça o fogo anárquico da verdade”, “embrenhando-se em um labirinto de feridas antigas”. Assim, surta, enlouquece e precisa “consertar" suas ações. “Não se perca!”, avisa-se. Ao ouvir as histórias cruéis e violentas sofridas pelos sobreviventes, essa verdade choca e faz chorar, mas também amadurece e fortalece, inclusive sobre sua própria família. “Labirinto de Mentiras” aborda o assunto mais “pedra no sapato” do povo alemão, e por meio de sonhos-epifanias, referências sutis a “Vida é Bela”, de Roberto Benigni, faz “história". “Tem a ver com as vítimas e suas histórias”, diz-se com atmosfera característica de um filme alemão, com sua edição ágil e sua emoção natural (mitigando a manipulação sentimental da estrutura de Hollywood - vide “A Lista de Schindler”, de Steven Spielberg). É um filme sobre um “novato" que “abriu os olhos” e julgou os crimes que estavam claros e diretos a todos. Concluindo, “Labirinto de Mentiras” é um filmaço, altamente recomendado e tem uma das cenas mais “pedido de desculpas” do gênero (quando um “inocente" encontra Auschwitz) e “pela primeira vez, os alemães julgam os alemães em 1963. Neste caso, “uma andorinha fez verão” sim.