Crítica: Houston

Por Fabricio Duque

“Houston”, filme que passou despercebido no Festival do Rio 2013, mesmo sendo reexibido na famosa repescagem (a segunda chance), imprime uma atmosfera etérea de ações quase sem diálogos, que remetem a um universo realista de ficção científica (por sua fotografia de imagens sobrepostas e espelhadas). É o segundo longa-metragem do diretor alemão Bastian Günther (de “Autopiloten”). Aqui, critica-se a arrogância americana e a limitação da inteligência (perspicaz - enaltecendo técnicas e comportamento “máquina-robô”). Confronta-se, em tom explícito de contraste, o silêncio alemão com a verborragia americana de Houston (que não possui banheiro público e que unifica a ideia de que “voz alemã é Hitler”). O roteiro busca quebrar arquétipos inóspitos e não hospitaleiros. De um lado, o querer do espaço. Do outro, a obrigação da “amizade” (talvez pela carência de se estar constantemente viajando - inferindo bem de leve George Clooney e seu “Amor Sem Escalas"). Há uma superexposição do comportamento estereotipado americano (e os sons-ruídos potencializados). “Houston" é um longa-metragem sobre uma “imigração”, de vivenciar uma cultura alheira completamente diferente. E a transmutação patriótica se impõe radicalmente. De um lado, o acolhimento no jeito do país “visitante”. Do outro, a raiz que se torna ruim. “Houston" subverte, na metáfora, lados geográficos em barreiras internacionais. Porém, a “maldição” do final clichê que atinge dez entre dez cineastas mostra-se mais uma vez. A mensagem prólogo de adaptar seu tempo alemão na “loucura" da América descortina o próprio ritmo construído com precisão cirúrgica. Mas este é um mero detalhe derrapado em um contexto que o espectador não pode deixar de conferir. A sinopse nos conta que o alemão Clemens Trunschka é um headhunter corporativo e também um alcoólatra. Por beber cada vez mais, ele tem se afastado de sua vida e da própria realidade, gerando problemas para sua esposa e filho. Ao falhar numa missão de trabalho por estar bêbado, ele é obrigado a viajar até a cidade de Houston, Texas, no encalço de um renomado diretor de uma companhia de petróleo. É então que sua vida entra em colapso de vez, e o vício o leva a descobrir seu lado sombrio, numa espiral descendente de erros. A trilha é composta por Michael Rother, da banda Neu!. Foi exibido no Festival de Sundance 2013. Recomendado.