Crítica Curta-Metragem: Escape From My Eyes

Por Fabricio Duque

Uma das novidades do novo layout do Vertentes do Cinema é o espaço destinado às produções de curtas-metragens. Aos poucos, críticas-pílulas pulularão. Mas não podemos esperar mais e falar sobre “Escape From My Eyes”, do cineasta Felipe Bragança “Luíza Coração No Fogo” (que para quem não sabe foi o roteirista de “A Praia do Futuro”, de Karim Aïnouz). O curta média-metragem é mais um exercício experimental de surrealismo realista, que usa propositalmente o amadorismo estético a fim de se “apropriar" do público, e assim, discutir as questões sociais pelo viés de um retrato lúdico-burlesco. O diretor sabe exatamente o que quer transmitir ao escolher a “estranheza" narrativa. A câmera estática do início ambienta e capta o cotidiano. “Escape From My Eyes” é sobre tudo que escapa aos nossos olhos (ou o que deixamos de ver por repetição visual). É sobre à margem da sociedade, os “errantes" que “estão no lugar errado na hora errada”, pensam aqueles que desejam “limpar etnicamente” (e “não ver mais”) a cidade-país em que vivem. Esses refugiados, imigrantes, vivem como índios na metrópole, em tendas na praça de Berlim, Alemanha. “Fuja dos Meus Olhos”, sua tradução, incomoda por buscar a poesia concretista do próprio existir submundo, em som sensorial do perigo iminente, mesclando referências ao cineasta sueco Roy Andersson e ao francês Michel Gondry (a apatia e o carnavalesco), diz-se “Durante os ataques, eu sonho”. Entre o Deserto de Mali, em 2009; Finlândia; Gana; Burkina Faso, em 2011, e “fantasmas" personificados, o filme desenvolve seu conceito temático ao abordar deportação e as demolições de comunidades hippie europeias (barracos com geladeira). O discurso é aprofundado e traz os “mortos”, a observação da “máscara de leão”, medos, anseios, tristezas, culpas, carências, invisibilidade, a necessidade de se acostumar com o novo lugar e a intolerância dos “olhos preenchidos do nosso deserto”. Eles são “seguidos" (e deixam) dividir suas vidas com o diretor em questão aqui, e “ganham" a contemplação de suas existências analisadas pela lente peculiar, única, livre e respeitosa de Felipe Bragança. “Fuja dos Meus Olhos” é a possibilidade de questionar vidas, de ser solidário com os problemas reais de seres humanos, que cada vez são considerados mais animais e menos indivíduos sociais. Um média metragem de trinta e três minutos que corrobora a característica marcante de seu diretor e lança a semente da luz sobre estas pessoas que só recebem “fuga de nossos olhos”. Recomendado.