Crítica: Jonas

Por Fabricio Duque

“Jonas" é a estreia na direção de Lô Politi e busca integrar a estética naturalista-realista do novíssimo cinema nacional (exemplos à “Ausência" e “Som Ao Redor”). Contudo, a narrativa empregada consolidou o tom novelesco, já indicado explicitamente pela logo da Record no primeiro crédito. Aqui, a estrutura independente autoral do início, que se utiliza da câmera para acompanhar seu protagonista e seus consequentes diálogos espontâneos e perspicazes (“Vai pela sombra que sua melanina não está te favorecendo”, diz Criolo - o cantor, agora ator) a Jonas (vivenciado com desenvoltura por Jesuíta Barbosa - o “melhor ator do Brasil”, segundo declaração exaltada e emocionada da diretora na sessão de gala da mostra Novos Rumos do Festival do Rio 2015), com a trilha sonora de “Velha e Louca”, de Mallu Magalhães. É verdade, a maestria do longa-metragem é a interpretação de seu ator principal que atrai a contracenação Até aí, tudo bem, incluindo sua lembrança filmada; e ou garoto pobre (filho de empregada que tem um “pé no crime”, mas que não bebe por causa do padrasto bêbado) que reencontra garota burguesa (filha da patroa que também gosta “transgressão" do crime - “a cachorra do traficante"); e ou de novo o argumento de contraste de classes sociais (como a doméstica que é amiga da “sinhozinha" e que costura roupas em horas extras de trabalho - e que “herda" os bens velhos da patroa). O universo do carnaval ganha contornos de um a ficção amadora propositalmente objetivada. E a trama segue sua cadência ritmada. “Carnaval é a desculpa para encher a cara”, diz-se. Então, reinicia-se um novo filme com um novo ritmo. A “influência” religiosa aparece. “Jonas, o profeta da Bíblia, para dar sorte”, explica. Eles, os moradores da comunidade carente, utilizam-se de todos os subterfúgios para sobreviver às mazelas e dificuldades da vida economicamente despreparada. E assim, a narrativa “apela” a gatilhos comuns e truques como música lenta dentro da música de samba a fim de mostrar a “aparição" do objeto obsessivo do amor do “Romeu”, despertando-se assim uma sucessão de clichês e manipulações factoides de ligamentos técnico-cinematográficos. A música “cresce" e “rasga” sua razão. Facilita-se as reviravoltas e surpresas, indo pelo caminho do óbvio e do palatável. Na trama, quando a “merda" é instaurada, o espectador volta a confiar. Uma “bola de neve” de ações desastradas, não ajudadas pelo acaso, prende a atenção e a curiosidade. Mas não. Reverte-se o processo. Novos gatilhos comuns são “convidados”. Interpretações exageradas, paralelo com o desfilo do carnaval, a elipse da resolução, o incêndio “apoteótico", a conversa vazada, a câmera ora lenta, ora que corre atrás do personagem. É ingênuo e até mesmo inocente, principalmente quando se cria a metáfora de Jonas, o “príncipe branquelo", e a barriga da baleia. O filme torna-se anti-naturalista, perde ritmo, assume-se como novelesco. Concluindo, um filme que se equilibra na linha tênue autoral e comercial, que representa um bom começo, e com futuro.