Crítica: Bombay Velvet

Por Fabricio Duque

Todo cinéfilo, por mais apaixonado por filmes seja, sabe que dentro de uma maratona cinematográfica, que é o Festival do Rio, escolher um longa-metragem com mais de duas horas é impossibilitar outros tantos. Sim. Mas o caso de “Bombay Velvet”, que tem duração de cento e cinquenta minutos, é uma obrigatória exceção. A “epopeia” de Bollywood, gênero de sucesso do cinema indiano, é uma obra que homenageia a arte fílmica, referenciando inúmeros clássicos icônicos hollywoodianos, como “Era Uma Vez Na América”, “Chicago”, “O Poderoso Chefão”, “Cotton Club”, “Moulin Rouge”, “Romeo & Juliet”, entre tantos outros, porém sem plagiá-los e perder sua personalidade própria, que é corroborada, a todo instante, por seus números musicais que resumem e ou explicam acontecimentos e ou sentimentos de seus personagens. O espectador fica completamente hipnotizado. Não pica e não percebe o tempo passar. Quando viu, o filme acaba. A narrativa mescla “faroeste-contemporâneo" noir (do final dos anos sessenta) à moda Quentin Tarantino de uma Broadway local, levando a Manhattan novaiorquina à área “rica" de Bombay, visto que “lá fora é a Índia, pobre e miserável”. Seu protagonista, Johnny, encarna e encanta com uma mistura física de Robert De Niro com Al Pacino, e "encontra" a violência de um “Clube da Luta” nostálgico para “aliviar" a raiva e “manter" o foco nos negócios. Há algo de “Touro Indomável” e “Os Bons Companheiros”, de Martin Scorsese, e “Quem Quer Ser Um Milionário?”, de Danny Boyle, tanto que esses cineastas são agradecidos logo nos primeiros créditos. Seu diretor Anurag Kashyap (o mesmo do épico "Gangues de Wasseypur”, de 320 minutos, “Black Friday" e "Feio") recria com realismo e dramaticidade de efeito um “musical" de jazz tendo a câmera como sua melhor “amiga”, que “assume" preferências dos filmes coreanos e um “que" de “Plata Quemada”. Definitivamente, é excessivamente difícil definir este filme em questão aqui. Então, caro leitor-espectador-cinéfilo, siga nossa indicação e não perca esta obra-prima, que necessita ser assistida na tela grande, no maior cinema e de maior qualidade técnica. É um desbunde visual com referências histórias de uma “Índia americana", e que interage a batida do jazz com a epifania catártica do momento apresentado. Exibido no Festival de Locarno 2015, festival que o diretor é quase “sócio” por presença garantida, a sinopse conta a história de um homem que luta contra todas as adversidades e contra seu próprio destino para se transformar em um poderoso mafioso de Mumbai. Nos anos 1960, Balraj é um boxeador que se apaixona por Rosie, uma cantora de jazz acostumada a homens ricos e bajuladores. Balraj vai fazer de tudo para conquistá-la e, quando cai nas graças do empresário Kaizad Khambatta, dono da boate Bombay Velvet, irá crescer dentro do mundo do crime, chamando assim a atenção de sua amada. Uma história recheada de música, amor, ganância e jazz. A recriação cinematográfica da cidade da década de 1960 foi feita e filmada no Sri Lanka. Concluindo, um longa-longuíssimo-metragem, baseado no livro "Mumbay Fables" de Gyan Prakash, altamente recomendado.