Crítica: Beira-Mar

Por Fabricio Duque

“Beira-Mar”, dirigido pelos gaúchos Filipe Matzembacher e Marcio Revlon (que trabalham com pesquisa autoral focada em obras que abordam conflitos inerentes à juventude e sexualidade), busca a simplicidade temática a fim de abordar descobertas existencialistas de dois amigos. A narrativa personifica, na estrutura “on the road” , essa jornada que modificará a vida deles, que se conta entre a ingenuidade e o amadorismo diretivo, quando encontra “abrigo" em gatilhos comuns, cujos subterfúgios reverberam clichês e obviedades palatáveis. Assim, o roteiro, em elipses temporais, tenta seguir a linha de “quebra-cabeças”, pelo fato do espectador montar as peças aos poucos. Só que o argumento não se sustenta, direcionando por um caminho de frágeis reviravoltas. Talvez, “Beira-Mar” funcione melhor a seus “semelhantes”, jovens que estão no início de suas experiências. Talvez assim possa traduzir-se como “fofo”. Aos outros, a sensação que fica é de um vazio, “estimulado" por uma passional e pessoal característica intrínseca dos adolescentes: sentir-se perdido. No início, a música “My Life Starting Over Again”, de Daniel Johnston ilustra a incondicional e “sobre-humana” capacidade da “reconstrução" e do “recomeço”. Nesta idade, eles são invencíveis, revolucionários, transgressores (o cigarro, a bebida, as drogas e o “suicídio" - este presente na letra, pode também representar uma liberdade de se fugir da intensidade de ser eles mesmos e do que precisam mostrar aos outros), vulneráveis e arrogantes, quando acham que já sabem e que já podem tudo. Como as resoluções “soltas" das reviravoltas, preferindo o conceito da inferência que sua condensada explicação, pecando pela falta, talvez por “medo" do errar. Ficando entre imagens filmadas e repetições temáticas já conhecidas e já massificada. A sinopse conta que Martin e Tomaz passam um fim de semana imersos em um universo próprio (com seus desenhos, revisitações ao passado, redefinições realistas, suas picardias, “estúpidas" e brincadeiras “bobinhas”). Alternando entre distrações corriqueiras e reflexões sobre suas vidas e sua amizade, os garotos se abrigam em uma casa de vidro, à beira de um mar frio e revolto, incomunicáveis e alienantes de si mesmos. O longa-metragem, exibido no Forúm do Festival de Berlim 2015, ainda precisa “crescer” e adquirir maturidade, mas está no caminho certo só pelo simples fato de “expor" sua coragem e de não guardar, de forma covarde, seu conteúdo e seu resultado.