Crítica: Órfãos do Eldorado

Por Fabricio Duque
(Direto do Mostra de Tiradentes 2015)


“Órfãos de Eldorado”, dirigido por Guilherme Cezar Coelho (de “Fala Tu”), estreou no Festival de Tiradentes de 2015 trazendo dois atores que estão em alta no novo cinema nacional, Dira Paes e Daniel de Oliveira. A narrativa busca distanciar-se da estrutura novelesca e se aproximar da cinematografia clássica, com seus planos longos de ambientação (apresentado aos poucos) focos não convencionais, personagem-narração-sensorial, fotografia nostálgica em “contemplações secretas”, para abordar e “estimular”, de forma “saliente” e fragmentada, “histórias do céu vermelho”. Passado real e ou presente projetado-lisérgico? A trama “indica" que um período temporal conecta-se a outro a fim de resolver pendências, culpas e fantasmas existencialistas. Aqui, a atmosfera é sexual, intensa, alusões incestuosas ou até mesmo Hamlet, em linguagem rebuscada com coloquialismo. Arminto Cordovil (Daniel de Oliveira) é o herdeiro de antigos barões de borracha do norte do país. Após viver uma relação incestuosa com a irmã, ele é expulso do lugar em que vive. A loucura é retro-alimentada, servindo de uma regurgitação terapêutica de libertar a alma atormentada e “se pegar a qualquer Santo para não dar encosto”. É um filme de momentos, de experimentações visuais, sobre uma família “atormentada" pelo passado. A fotografia plástica “traduz" o tempo, delírios e desejos “a flor da pele”, entre cenas de sexo (de amor “barroco") que quase lembram “9 Canções”, de Michael Winterbotton, entre epifanias que quase lembram “Sangue Azul”, de Lírio Ferreira, e entre Mariana Rios cantando. “Órfãos de Eldorado” é sexy e sensorial (ao personificar sons), comportando-se em um estado lendário-enfeitiçado de transe explícito em “busca da mulher misteriosa”. “O cheiro da tua carne ainda está aqui”, diz-se, intensificando o desespero, “demônios”, suores, rituais, “castigos de índios”, confusão mental, os olhares “incrédulos” de Daniel e as metáforas de se estar em uma ilha e da cegueira "povoada". O roteiro, Baseado no mais recente romance do escritor brasileiro Milton Hatoum, tem a “ajuda" de Marcelo Gomes e do novelista José Emanuel Carneiro. Concluindo, um filme que procura o investimento da cumplicidade do espectador para que possa desenvolver as “viagens" pela esquizofrenia real e se aproximar do universo mítico amazônico – transformando a vida em fábula e tragédia. Daniel de Oliveira resolveu ir de carro do Rio de Janeiro até Belém, onde as filmagens foram realizadas, para que pudesse se habituar ao personagem. Ao todo foram seis dias de viagem, feita ao lado de dois amigos.