Crítica: Hill of Freedom - Montanha da Liberdade

Por Fabricio Duque
(Direto do Festival de Toronto 2014)

Cada cineasta, quando assumidamente autoral, é conhecido por sua característica principal dominante, podemos citar como exemplos clássicos, Woody Allen, Pedro Amodóvar. Hong Sang-Soo (de “Our Sunhi”, “A Visitante Francesa”, “HaHaHa”) também não fica fora da lista e, em seu mais recente filme (em questão aqui) “Hill of Freedom - Montanha da Liberdade”, corrobora seu realismo coloquial em interpretações espontâneas e despretensiosas. É basicamente sobre os pequenos momentos da vida. Em capítulos do acaso. Os mais simples. Os mais naturais. Do “livro" da vida. Como um cachorro que some, espaços dentro de um restaurante, agradecimentos em um jantar e sobre pessoas se conhecendo e se apaixonando. O roteiro, que se comporta como uma fábula poética da vida privada, é praticamente uma “torre de Babel”. Um japonês e uma coreana conversando em inglês. É a tradução da máxima que de o mundo”, de tão pequeno, em um universo próprio ao redor em narração “desastrada" dos acontecimentos, intercalando passado e presente. Há fotografia alaranjada, “flashback”, “bigode” para conotar um “artista”, conflitos narrativos, papos filosóficos, metáforas (do “café instantâneo”) e há o tempo, elemento cadenciado à simplicidade das cartas escritas, vitrola de discos e das percepções geográficas (“Chineses” iguais a “praga" e diferentemente dos “coreanos”, que são “educados e limpos”). Inevitável não haver “reações exageradas de comportamento” (característica mais que típica do “povo" asiático). Outra indicação da história é o personagem imaginar a vida alheia e supor “comunicabilidade”. O diretor utiliza-se também do artifício do final alternativo para que assim dê possibilidades existenciais a seus protagonistas. Trocando em miúdos, é um filme delicioso de se assistir e que poderíamos acompanhar essas “vidas" ficcionais por horas e horas ininterruptas. Definitivamente, esta é a principal maestria de Hong Sang-Soo, a de contar uma história da forma mais ritmada, equilibrada e fluida que pode ser resumida na sinopse que conta sobre o apaixonado japonês Mori (Ryo Kase), que vai até Seoul, na Coréia do Sul, procurar e tentar reconquistar Kwon (Seo Younghwa), seu antigo amor. Hospedado em uma casa modesta, ele conquista coreanos e coreanas com seu estilo único. Concluindo, não só seus personagens conquistam nossa atenção e carinho, assim como seu diretor, que “chega chegando” despretensioso, contagiante e apaixonado, respeitando a essência de se acreditar no acaso de cada um, inclusive a própria. Recomendado.