Crítica: Homem Irracional

Por Fabricio Duque
Direto do Festival de Cannes 2015

A máxima cinéfila de que “até o filme mais fraco de Woody Allen é excelente” talvez nunca deixe de ser dita quando um novo filme do diretor americano é lançado (sempre de ano em ano), que por sua vez, cria um “burburinho” de ansiedade, quase como um querer incontrolável e incondicional de uma criança por um “brinquedo” novo. Somos assim. Passionais quanto a suas obras, e nos perguntamos o que a “próxima” película nos reservará. Então, em “Homem Irracional”, assistido durante o Festival de Cannes 2015, o mestre-cineasta corrobora suas características marcantes, a de “conduzir” o espectador em um roteiro espontâneo, de cotidiano naturalista e lúdico, que pretere o conteúdo do texto ácido, cirúrgico e extremamente engraçado (sem o querer ser de maneira hiperbólica, tampouco exagerada) à forma “embalagem”. A narrativa “dança” ao som preciso de uma música de jazz, ritmando ações e “quebrando” reações. Tudo é muito puro, simples ao desenvolver as questões idiossincráticas do ser humano, despretensioso, principalmente por sua câmera que está ali (mas faz questão de não ser notada). A filmografia do Tio Woody amadureceu, tornou-se adulta, sem perder a sensibilidade e a tenacidade. Nada é gratuito. Aqui, alguns aspectos definidores transmutaram-se ao silêncio, como a música jazz nos créditos de abertura e ou como a carga emocional “soturna” que o diretor está experimentando. “A ansiedade é a vertigem da liberdade”, diz-se, soando “mais” adolescente ao “buscar” a nostalgia passional da juventude, confrontando autodestruições de uma “vida feia” e os limites das frustrações românticas com a irracionalidade do amor, que não deve “pensar” demais e sim “agir” sem controles e pudores. “O Homem Irracional” “liberta” também a sua música. Está mais soul, “procurando” mais a essência “raiz” de New Orleans, porém sem “mitigar” seus precisos diálogos de verborragia pensante, quase monólogos terapêuticos de se fazer apenas ouvir a própria voz. A “vítima” protagonista da vez é o ator “mais que carimbado” e de talento “multifacetado” Joaquin Phoenix, que faz par “mais que compatível” com Emma Stone. Sim, a expressão “mais que” pode ser considerada como uma redundante recorrência e por contrastes surreais, Woody mescla com química e harmonia “o menos é mais” com a crítica do próprio clichê para desnortear o próprio clichê, abordando o gênero “policial-noir-existencialista” de um suposto crime, seus mistérios e suas “encobertadas” artimanhas. A sinopse conta a história de um professor de filosofia que chega para lecionar em uma pequena cidade dos Estados Unidos. Logo uma de suas alunas se aproxima dele devido ao fascínio que sente pelo seu intelecto, além de sua tristeza. Simultaneamente, ele é alvo de uma professora casada que tenta ter um caso. E em uma ida à lanchonete, ouve a conversa de uma desconhecida sobre a perda da guarda do filho devido a uma decisão de um juiz. Assim, o protagonista começa a idealizar o assassinato do “monstro” e por ser um completo desconhecido, jamais seria descoberto. O cineasta sabe como ninguém traduzir com exatidão suas ideias, que são “anotadas” (geralmente quartos de hotel e datilografas na mesma máquina de escrever que sempre a utilizou em todos os seus filmes - informação esta presente no documentário “Woody Allen – Um Documentário”, ainda em cartaz nos cinemas). Outra característica impressionante é como consegue extrair tamanhas naturalidades interpretativas de seus atores e suas atrizes, talvez pela flexibilidade em “aceitar” improvisos que mais retratam o cotidiano. Concluindo, “O Homem Irracional” apresenta-se como outra obra-prima (com altas doses de humor-negro inocente e de ingenuidade individualista) de Woody Allen ao humanizar filosofias literárias personificadas no dia-a-dia de indivíduos que vivem em sociedade. Recomendado.
Realizada inicialmente em 16/05/2015 e complementada em 26/08/2015.