Crítica: O Expresso do Amanhã

Por Fabricio Duque

Ultimamente, há a sensação de que o espectador-cinéfilo já viu de tudo e que parece não existir mais possibilidades de se contar uma história sem cair em gatilhos comuns, obviedades e clichês ambulantes, que não “mostram" surpresas e ou experiências fílmicas. É por isso que quando um filme que sai do comum estreia, nossa esperança na arte cinematográfica renova-se. “O Expresso do Amanhã”, que foi um dos últimos gravados em película na Coréia, é um deles. Baseado na graphic novel francesa "Le Transperceneige", de Jean-Marc Rochette e Jacques Loeb, é dirigido pelo cultuado Joon-Ho Bong, um sul-coreano que já realizou “Mother”, “O Hospedeiro”. A narrativa distópica busca a epopeia da parábola existencialista, tentando “resumir" as questões do nosso mundo social pelo viés futurista do tema pós-apocalipse, tudo em um único trem (a nova moradia dos “sobreviventes"). Aqui, a narrativa busca referências nas obras dos cineastas “lúdico-realistas” Terry Giliam (de “O Teorema Zero”, “Tokyo!” - explicitamente, visto que o nome de John Hurt é Gilliam no filme), Leos Carax (de “Holy Motors”), mas sem copiá-las, apenas como um artifício de “memória”, que nesta trama é seu tema principal. O longa-metragem cria a metáfora do poder, do governo, da ditadura, da resignação, da subversão e da revolta a fim de reconstruir a história “ficcional" da humanidade. Na trama, o novo “presidente" comporta-se onipresente, sistemático, excêntrico, sádico e insano, à moda de “A Vila”, de M. Night Shyamalan e “2001”, de Stanley Kubrick, que vê seu mundo capitalista ameaçado por um “revolucionário" do povo. Outras referências são possíveis e totalmente dentro do contexto, como o cego líder de “Ensaio Sobre a Cegueira”, de Fernando Meirelles e no romance "1984" de George Orwell. Diz-se que cada um possui sua importância na sociedade para que funcione perfeitamente como um maquinário. O argumento segue a risca as ideias de Karl Marx, que “estimula" o poder ao povo. “Mas todos precisam de um líder”, contesta o já óbvio pensamento. A sinopse conta que quando um experimento para impedir o aquecimento global falha, uma nova era do gelo toma conta do planeta Terra. Os únicos sobreviventes estão a bordo de uma imensa máquina chamada Snowpiercer. Lá, os mais pobres vivem em condições terríveis, enquanto a classe rica é repleta de pessoas que se comportam como reis. Até o dia em que um dos miseráveis resolve mudar o status quo, descobrindo todos os segredos deste intrincado maquinário. “O Expresso do Amanhã” é um grande “Mad Max”, um filme de camadas simbólicas, desde o “passeio" da extremidade pobre ao “escritório" principal, a “parada"na batalha para “festejar" o ano novo, a comida japonesa servido apenas duas vezes por ano por questões de equilíbrio, as portas (fases do caminho), as drogas (kronol), as festas. Concluindo, um filme curioso, interessante e corajoso. o diretor explicou que o 'bloco de proteína' do filme foi realmente feito com a combinação de alga, emaranhado, açúcar e gelatina. O ator Jamie Bell odiou, já Tilda Swinton adorou. E tinha ressalvas em escalar Chris Evans no papel principal por causa de seu físico muscular. Ele sentiu que como um residente da seção mais pobre do trem, Curtis não deveria aparentar a estrutura corporal atual do ator. Figurinos e minuciosos ângulos de câmera mantiveram o físico de Evans ‘escondido'. A premissa do longa é semelhante ao segmento 'The Second Renaissance', de The Animatrix (2003). Ambos os filmes mostram os seres humanos causando seu próprio aniquilamento ao liberarem um gás transportado na atmosfera. Em "The Animatrix", a intenção era bloquear a fonte de energia das máquinas (o sol). Neste filme, é para deter o aquecimento global. Recomendado.