Crítica: Meia Hora e As Manchetes Que Viram Manchete

Por Fabricio Duque

“Meia Hora e As Manchetes Que Viraram Manchete”, do diretor estreante em um longa-metragem Angelo Defanti (dos curtas "Bom Dia, Meu Nome é Sheila ou Como Trabalhar em Telemarketing e Ganhar um Vale-Coxinha", "A Melhor Idade", "Feijoada Completa"), aborda a “explosão” midiática do jornal popular “Meia Hora”, que se utiliza de manchetes-sacadas-piadistas “de efeito” a fim de “informar” um público menos “elitizado” sobre as notícias “relevantes” (o dia-a-dia das mulheres “frutas”, por exemplo) que acontecem, principalmente, no Rio de Janeiro e nas áreas mais socialmente “despreparadas”, vista como “zonas de opressão econômica”; e mostra como funciona essa construção de notícias a partir do olhar dos editores da publicação. O tabloide, um “filhote” do jornal “O Dia”, que “não sabe mais se é popular ou elite”, busca “resumir” na manchete a própria matéria, como “Fátima Bernardes abandona Bonner e vai fazer programa”. O tom de humor negro realista e “polêmico” (diferente, por exemplo, do “Sensacionalista”, que conjectura ficção na realidade) tornou-se a característica reinante. “Não somos comediantes de stand-up”, diz-se. O documentário “atende” no quesito narrativo ao conjugar estrutura clássica, animação imagética e trilha sonora acompanhada “rebuscada”, traduzindo-se apenas o conteúdo, transpassado com o “timing” da edição ágil, gerando o interesse (e curiosidade) de quem assiste por meio dos contos inusitados. Não se pode negar que eles sabem contar uma história. Porém, quanto ao tema em si, milhões de questionamentos pululam, conflitantemente, em nossas cabeças e em nossos princípios moralistas de indivíduos sociais. A ideia de que “Tostines vende mais porque é fresquinho ou é fresquinho porque mais?” talvez seja o grande mote do filme. Inevitavelmente, a abordagem antropológica acontece. Até porque se trabalha com o elemento comportamental “consumista” da sociedade. Aqui, tenta-se “limitar” entendimentos e possíveis crescimentos intelectuais quando se “aceita” a máxima de que a classe social “operária” em questão não se encontra “apta” a rebuscamentos textuais. Nivela-se exclusivamente por baixo, com o embasamento de que é “o que se espera”. Chega a ser lógico que se “alimentarmos” a “burrice”, então sempre teremos a informação “mastigada” e palatável oferecida. Steve Jobs, a figura mais importante da empresa Apple, falecido recentemente, dizia que o consumidor não sabia o que queria, portanto, ele oferecia o melhor e a inteligência prática. Não precisamos “caminhar” por muito longe, em qualquer feira há a possibilidade de se encontrar bolsas, camisas, bonés de marca. Por que então isso? Porque o marketing “estimulou” ideias e quereres. Logo é possível “transformar” desejos “menores” (e sem tantas expectativas) em qualidades. Nós sabemos que há a necessidade de uma grande transmutação e que não é do dia para a noite. Antigamente, a mídia “influenciava” modelos, ideias e objetivos. Hoje, vivemos em uma “ditadura-individualista” de opiniões “vazias e sem rumo”, e assim, os meios de comunicação precisam se “adequar” ao “querer” dos outros, que por sinal não sabem exatamente o que realmente querem. Uma bola de neve? A “modernidade” modificou também a linguagem, simplificando termos e sendo condescendente com o coloquial. “Tu é”, por exemplo, quando na verdade, “Tu és”. Isso seria uma liberdade “populesca” que “assalta” a contemporaneidade? Há uma parte no documentário em questão aqui que mostra um pequeno glossário no “Meia Hora”. Caros leitores-espectadores pasmem! São palavras quase “básicas” do nosso vocabulário. Não seria esta outra forma de “zoar”, de forma preconceituosa, e “escrachada” o próprio “cliente” que lê o jornal? Ninguém nasce sabendo de nada, tampouco com conhecimento “entranhado”. Nós somos constantemente “adestrados” e estimulados a gostar das coisas. O produtor cineasta Cavi Borges disse certa vez que no início achava “chatíssimo” os filmes de arte e que agora “não consegue ficar sem assisti-los” (realizando inclusive “modelos" referenciais). O que reverbera em “Meia Hora e As Manchetes Que Viraram Manchete” é o “sadismo” de “afundar” ainda mais o pobre. Tentando “ganhar” fama e sucesso pelo oportunismo de se abordar o meio popular. Inevitavelmente também não há como não referenciar ao tabloide francês “Charlie Hebdo”, que utiliza abordagem parecida, só que em outra esfera. Trocando em miúdos, a estrutura cinematográfica consegue um resultado satisfatório, porém básico. Quanto ao tema, mil questionamentos impulsionam nossas percepções e “limites”, principalmente quando “tentam” se comparar a outros jornais mais elitistas.