Crítica: O Gorila

Por Fabricio Duque

O diretor brasileiro José Eduardo Belmonte (de “Meu Mundo Em Perigo”, “A Concepção”) gosta de diversificar radicalmente narrativas, gêneros e estilos, em seus filmes, indo do experimental ao popular, do comercial ao independente. “Gorila”, baseado no conto do escritor Sérgio Sant'Anna, duas vezes contemplado no Prêmio Jabuti, não poderia ser diferente. Opta-se pela comédia de realismo fantástico, que conta a história de Afrânio (o ator Otávio Muller, cuja interpretação de entregue visceral e surtada rendeu o prêmio de Melhor Ator no Festival do Rio 2012), um sujeito reservado e angustiado por memórias de sua infância, que costumava trabalhar com dublagem, mas que está insatisfeito, já não conseguindo mais exercer a função. Para amenizar a solidão e se entreter, ele encontra um passatempo: ligar para pessoas desconhecidas, geralmente mulheres, e se apresentar como "O Gorila". Seu alterego usa da bela voz para conhecer a história dessas pessoas e acaba desenvolvendo laços com elas. Entretanto, na noite de Natal, Afrânio recebe um trote. Do outro lado da linha está uma pessoa misteriosa que fará com que ele enfrente o mundo exterior para tentar salvar uma vida. O longa-metragem usa a melhor característica de seu diretor: a de construir um universo único e “tridimensional” de surrealismo existencialista, a fim de imergir o espectador nas loucuras idiossincráticas dos personagens, pelo viés de um proposital amadorismo-intimista. Porém, talvez, quando exacerba sua maestria, o roteiro desencadeia fragilidades inerentes da superexposição. Os elementos repetem-se e ganham ‘déjà-Vu’ na própria trama, que ainda conta no elenco com as atrizes Mariana Ximenes e Alessandra Negrini, que conseguem a conexão do roteiro objetivado à esquizofrenia cognitiva visual. Concluindo, “Gorila” é um filme “submarino”. Interno, soturno e alimentado por projeções fantasiosas do real querer da própria realidade. Trocando em miúdos, “dá” muitas voltas ao redor do “rabo”, mas sem sombras de dúvidas é extremamente curioso, interessante e recomendado.