Por Fabricio Duque
“O Exterminador do Futuro: Gênesis”
é muito mais que só um filme de entretenimento comercial de ficção científica,
visto que suas camadas narrativas partem da nostalgia (da memória afetiva) para
revisitar questões sociais ainda não solucionadas, incluindo esse paralelismo
na própria trama, que aborda o comportamento contemporâneo do politicamente
correto e do hiperdimensionamento da sensibilidade não perspicaz, que mitiga o
humor e “enaltece” a hipocrisia da palavra. “Velho, mas não obsoleto”, diz-se.
Tanto que em nenhum momento uma parte do corpo mais “saliente” aparece em cena,
transformando a estrutura independente dos anos oitenta em um produto vendável a
qualquer público. Mas por incrível que pareça isto não é um efeito negativo.
Pelo contrário. É o que faz o longa-metragem funcionar como crítica a uma época
que precisa refazer sucessos talvez por faltas de inovação, porém “respeitando”
a nova “estética” da moralidade. Violência sim, nudez, nunca. Talvez pelo
rígido mercado que poda e que “re”-doutrina. Um destas questões é o sistema
operacional Genesis, que faz uma analogia explícita ao Google, que se “vende”
como o futuro. Algo como “Ela”, de Spike Jonze. A máquina aqui ganha “compaixão
perspicaz”, torna-se homem, mas o grau de emoções é tão complexo que não é
entendido. A lógica do propósito sobrepuja as escolhas “sorte” dos “não
evoluídos” (no caso, nós). O primeiro livro da Bíblia narra uma visão
mitológica desde a criação do mundo na perspectiva hebraica, genealogias dos
Patriarcas bíblicos, até à fixação deste povo no Egito através da história de
José. Dizem que não se deve refilmar filmes icônicos porque é “perigoso” trazer
uma época sentida a uma época não vivida. O público de antes é completamente do
público de hoje, tanto que a nostalgia para alguns é tão importante. Nos dias
atuais, o entretenimento (de “descansar a mente de um dia cansativo”) prevalece
às questões politizadas do passado. “O Exterminador do Futuro” marcou um período.
É fato. Mas hoje, talvez, seja velho. Ultrapassado. E confrontando o próprio
roteiro, obsoleto. Com tudo esses riscos, o diretor Alan Taylor (de “Thor” e
episódios de “Game of Thrones” – daí a escolha de Emilia Clarke, atriz que
interpreta Daenerys Targaryen) imprimiu coragem, técnica e referências aos
outros filmes (a narração explicativa), resultando em um “produto” dotado de
inteligência, qualidade e ação, conjugadas com equilíbrio e brilho nostálgico
(principalmente pelo ator Arnold Schwarzenegger). Aqui, explica mais, mas não
tudo. A trama acontece inicialmente no futuro, no ano de 2029 (que é o presente
deles), e conta sobre a resistência humana contra as máquinas, que é comandada
por John Connor (Jason Clarke). Ao saber que a Skynet enviou um exterminador ao
passado com o objetivo de matar sua mãe, Sarah Connor (Emilia Clarke), antes de
seu nascimento, John envia o sargento Kyle Reese (Jai Courtney) de volta ao ano
de 1984, na intenção de garantir a segurança dela. Entretanto, ao chegar, Reese
é surpreendido pelo fato de que Sarah tem como protetor outro exterminador
T-800 (Arnold Schwarzenegger), enviado para protegê-la quando ainda era
criança. Outras questões são levantadas, como quem cuida é que realmente é o
verdadeiro pai e que emoções (assim como os afetos) são influenciadas pelo meio
em que se convive. Concluindo, um prato cheio à filósofos e metafóricos de
plantão. Recomendado.