Crítica: Permanência

Por Fabricio Duque

“Permanência”, estreia na direção do pernambucano Leonardo Lacca em um longa-metragem, foi o grande vencedor com cinco prêmios do festival Cine PE, incluindo o de Melhor Filme. É estrelado pelo “multiuso” ator recifense Irandhir Santos, corroborando sua característica interpretativa da naturalidade (sutil, excessivamente ‘low profile’ e sem hiperdimensionar as reações) em papéis propositalmente “deslocados”, de adaptação social aos costumes locais. Aqui, a narrativa busca a estrutura tradicional para que possa “transformar” a simplicidade coloquial em um complexo drama existencial, de tema clássico e atemporal. Irandhir vive Ivo, um fotógrafo pernambucano que viaja a São Paulo para fazer sua primeira exposição individual. A ideia comportamental trabalhada com modernidade de aceitar o convite para se hospedar na casa da ex-namorada Rita (Rita Carelli), inevitavelmente ganha conflitos esperados. Ela está casada com outro homem, e ele deixou um amor em sua cidade natal. A proximidade entre eles desperta sentimentos antigos, de comodidade geográfica e desejos acordados pela praticidade do momento. A maestria do longa-metragem está em retratar o cotidiano banal do reencontro por detalhes individualistas, subjetivos e intimistas. Não é porque não acontece nada que o nada não acontece. Assim, traz-se o espectador, que é “presenteado” com a observação “fofoqueira” de seres humanos, perpassando por estágios tímidos, de defesas iniciais e por outros corajosos, quando é equilibrado o costume. “Permanência” prefere o conteúdo à forma, mitigando ilusões visuais e ou gatilhos comuns a fim de manipular cruelmente quem assiste. É uma crônica. Uma fábula realista da vida privada com seus truques intrínsecos e de aceitação crível, “bombardeados” pela interpretação magnética e sem a percepção da própria encenação, soando como um documentário “Big Brother” emocional. Recomendado.