Crítica: O Tesouro

Por Fabricio Duque
Durante o Festival de Cannes 2015

Uma das características marcantes do diretor romeno Corneliu Porumboiu é a diversificação de gênero dentro de seu próprio cinema, experimentando narrativa, técnica, temática, conteúdo e conceito, sem perder a essência-condução-independente (propositalmente caseira) de suas ideias, utópicos-nostálgicos argumentos e questionamentos político-sociais de tentar a todo custo conservar e proteger a existência comportamental de seu país natal. Em seu mais recente filme, “O Tesouro”, exibido na mostra Un Certain Regard do Festival de Cannes 2015, é um mergulho na aventura surreal de uma loucura de imaginário social, confrontando, assim, até que ponto,a influência radical e sem volta da necessidade do dinheiro afeta vidas equilibradas e saudáveis. Trocando em miúdos, são pessoas que enlouquecem pela iminente descoberta de um tesouro, lembrando em muito às histórias do garimpo de Serra Pelada e sua “corrida do ouro”. Aqui, paralelos à moda de “Polícia, Adjetivo”, um dos filmes que integram a filmografia de seu diretor, remetem à representação humanizada de Robin Wood (livro lido ao filho; juros de treze porcento; e a potencializada solidariedade em ajudar). “O problema é de sustentabilidade”, diz-se em um programa de televisão, entre “acordos" no trabalho e sentimentos técnicos-frios mitigados de emoção. A mirabolante-sobrevivente ideia “ilegal" (que parece “trambique” e ou uma “história de contos de fadas") é a de procurar um tesouro (com um detector de metais) em áreas desconhecidas (podendo ser preso se for um lugar de patrimônio "público"). O roteiro “arquiteta" artifícios de quebra da obviedade, como transmutar um desejo querer (que em um primeiro momento pode ser traduzido e “taxado" de ingênuo e patético), em desculpas “mais aceitáveis”, sendo “mais fácil” enganar que está traindo do que dizer que está procurando um hipotético e fantasioso “tesouro”. Desta forma, Porumboiu realiza sua crítica social de um povo (de gestos carente-hiperativo-acelerados) que se comporta por desequilibradas “soluções" de achar maneiras de se salvar, aludindo a Revolução de 1848 (como sempre, um acontecimento específico da história da Romênia). É tão amador, mas tão acredito, que os “sonhos futuros” de seus personagens são “minados" e “plantados”, despertando uma “cumplicidade" co-dependente (de graça fragilizada-vulnerável - como por exemplo o detector que apita em qualquer lugar) do espectador ao se “aprisionar" a loucura “comunista" e ou do “não pensar”, talvez por indicar uma maniqueísta “irracionalidade” do “fazer o certo” (procurar a polícia para não “ser ladrão”) com a inserção de “Opus Dei - Life is Life”, de Laibach ("Quando todo mundo dá tudo, Então tudo vai ficar todo mundo”). Bem no fundo, mas sim, há fundamento, lembra a estrutura de “O Segredo dos Diamantes”, de Helvécio Ratton. A sinopse nos conta que Costi (Cuzin Toma) leva uma vida tranquila e serena com sua amada esposa e filho. Porém, a calmaria é abalada quando seu vizinho, Adrian (Adrian Purcarescu) afirma que há um tesouro escondido no quintal deles. Com a aprovação da esposa e o entusiasmo do filho, Costi se junta a Adrian na procura do tesouro, colocando-os em uma sucessão de acontecimentos inesperados. É um filme-comédia de situações “auto-deboche”, e assim disseca a intrínseca naturalidade não mascarada dos indivíduos que compõem a comunidade romena. Recomendado.




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