Crítica: Gerontofilia

Por Fabricio Duque

O diretor canadense Bruce LaBruce, com o intuito de suavizar o próprio estilo, que apresenta a característica de utilizar a pornografia, geralmente homossexual, como uma controversa revolução, realiza, em 2013, “Gerontophilia”, exibido no Festival de Veneza, e de Toronto, suprimindo aspectos mais sexualmente explícitos. O cineasta manteve o interesse em explorar tabus sexuais ao dramatizar um relacionamento intergeracional entre um jovem e um idoso, mas optou por fazê-lo dentro de um filme que seria mais palatável e delicado ao grande público. A expressão-título significa “amor sexual por idosos”, incluindo suas naturalidades fisiológicas. É estrelado por Pier-Gabriel Lajoie, que interpreta Lake, um belo jovem de Quebec, que apesar de estar em um relacionamento com uma garota, encontra-se atraído por homens muito mais velhos. O acaso dá a Lake a oportunidade de trabalhar em um centro de atendimento assistido para idosos, lugar que o adolescente começa um romance com o octogenário Melvyn (o ator Walter Borden). A história chega a um ponto em que os dois saem em uma viagem pelo país, até que Lake decide resgatar Melvyn do péssimo tratamento que ele está recebendo na casa de repouso. Na apresentação da exibição no Festival do Rio, LaBruce disse que é uma forma de “ensinar a um cão velho novos truques”, referenciando os anos setenta e se baseando em personagens. Ultimamente os atores escolhem papéis mais polêmicos e com maiores complexidades. Aqui, o ator de dezoito anos é heterossexual e o de oitenta e um, gay. “A química entre os dois era muito boa”, diz. A narrativa opta pela estrutura de congelar o tempo (estilo Xavier Dolan) e explorar o corpo para gerar a sinestesia no espectador. Entre “Roubar lojas é revolucionário”, músicas de indie rock (Pixies), pintura Titanic e “transformar o asilo em um paraíso das rugas” (pelo emprego dos sonhos), o roteiro caminha por detalhes e fetiches a um universo de filmes pornôs, focando no fetiche propositalmente amador e ainda tosco. O amor “dele”, estranho (aos olhos julgadores de quem não entende) sempre passará por perdas. “Gerontofilia” apresenta-se visualmente viciante, despretensioso, livre, passional e extremamente subjetivo. Recomendado.