Crítica: Chronic

Por Fabricio Duque
Direto do Festival de Cannes 2015

"Chronic",  de Michel Franco (de "Depois de Lúcia"), da mostra competitiva principal, representa mais um filme que busca “abrigo” no gênero de ator, focando exclusivamente no protagonista, interpretado por Tim Roth, que vive um enfermeiro que humaniza o tratamento de seus “pacientes terminais”, fornecendo-lhes o que realmente desejam (a liberdade). Lembrou-me muito o filme “Mel”, de Valeria Golino, exibido no Festival de Cannes 2013 na mostra Un Certain Regard. Aqui, a narrativa ultra realista busca a naturalidade das ações cotidianas (como o tempo do cuidado, o banho, até mesmo a limpeza escatológica) pela câmera estática, de cenas estendidas em planos longos, quase de contemplação. O personagem principal “aceita” a própria anulação e “opta” por “estar sendo” (pelo tempo necessário que durar a "performance") um ator, construindo outras histórias pessoais - que as investiga com afinco e incondicionalmente. Não há nada intrínseco dele, e sim os estágios “sugados”. Mas aos poucos, ínfimos detalhes (manias, toques, rotinas) aparecem e o ajudam a distingui-lo. A metáfora do titulo pode traduzir doentes crônicos, uma crônica de uma vida, a vivência crônica de ser. Sem emoção, com vazio, e de plasticidade líquida. O final surpreende de forma um tanto quanto apelativa, definidora e terminal.
Realizada inicialmente em 23/05/2015 e complementada em 27/05/2015.