Crítica: A Teoria de Tudo

Por Fabricio Duque

“A Teoria de Tudo” pertence a um novo gênero cinematográfico Oscar, realizados com características que “preenchem” os requisitos às indicações do prêmio mais “comercial” do mundo fílmico, agradando “em cheio” os membros da Academia. O roteirista Anthony McCarten, em 2004, leu o livro de memórias “Travelling to Infinity: My Life with Stephen” (“Viajando ao Infinito: Minha Vida com Stephen”, de Jane Hawking) e, posteriormente, começou a escrever uma adaptação para o cinema do livro sem garantias existentes. Ele se reuniu várias vezes com Jane em sua casa para discutir o projeto. A trama, exibida no Festival de Toronto 2014, aborda a vida de Stephen Hawking (que também buscou inspiração no livro “Uma Breve História do Tempo”, escrito pelo “personagem” em questão aqui), um britânico doutor “cosmólogo” (“ateu inteligente” apreciador da música de Richard Wagner), gênio nato da física quântica, que foi diagnosticado com esclerose lateral amiotrófica (afetando suas coordenações neuromotoras), mas que não desistiu e “lutou” para provar sua teoria da “Singularidade de Tempo-Espaço”, na qual uma única equação matemática explicaria todo o universo (no início foi considerada absurda, mas “aceita” quando tudo parecia estar perdido), chamada “Radiação Hawking”.  Então, o “pacote oscarizado” do filme dirigido por James Marsh (de “Carrington - Dias de Paixão”, “O Equilibrista”) está completo: biografia história detalhista, elementos de extremado sentimentalismo, uma doença degenerativa, uma esposa “forte” que não o abandona (amor inexplicável e incondicional), a trilha sonora emocional que permeia todo o filme, imagens ficcionais e granuladas em “super 8”, sobrevivência resistente, insistência nos ideais, sensibilidade na fotografia (lúdica com ângulos, na maioria das vezes, não convencionais) de nostalgia ensolarada (vivacidade), oportunidades sortudas e definidoras de futuro e a metáfora da tese temporal em meio ao alastramento do estágio terminal (causando uma carga difícil de suportar; sofrimento e pena à família e aos amigos – dando então uma saída “tradicional” ao caos). “E o cérebro?”, pergunta. “Seus pensamentos não serão afetados”, responde. A música cresce. A imagem mostra-se deturpada. A manipulação emocional ao espectador “está lançada”. Porém, os gatilhos técnicos utilizados são meros pontos diante da interpretação visceral, entregue e convincente do ator Eddie Redmayne (de “Sete Dias com Marilyn”, “O Destino de Júpiter”), que merecidamente, colecionou estatuetas de Melhor Ator no Oscar e o Globo de Ouro. O ator considerou um “pesado desafio” pelo fato do filme não ter sido filmado em ordem cronológica. Eddie ainda conta com um competente e entrosado elenco coadjuvante, que transpassam sutilezas interpretativas, destaque para a esposa Jane Wide (a atriz Felicity Jones, de “Histeria”, “Paixão Inocente”). A narrativa equilibra-se entre um iminente clichê e uma sincera teatralidade, conseguindo um satisfatório resultado, mesmo com todas as incursões de melodrama característico no gênero “oscarizado”.