Crítica: Pássaro Branco na Nevasca

Por Fabricio Duque

“Pássaro Branco Na Nevasca” é o novo longa-metragem que integra a filmografia do diretor americano de Los Angeles, Gregg Araki (de “Kaboom”, “The Living End”, “Splendor – Um Amor em Duas Vidas”, “Geração Maldita”, “Mistérios da Carne”), e reitera seu estilo característico de ambientar de forma superficial, propositalmente, suas tramas. Aqui, o roteiro “retorna” a história ao ano de 1988 a 1991 por uma direção de arte detalhista e nostálgica, mas com atualidade temporal, com seus diálogos sem trilha sonora, Joy Division no walkman, jogo Atari, e imagem estática de planos estendidos (sem cortes) que “encontram o universo” de Paul Thomas Anderson (“Vício Inerente”) e Todd Solondz (de “Bem-Vindo à Casa de Bonecas”). “A abstinência fortalece o coração”, diz-se, retratando uma inversão de valores (Filhos adultos versus pais surtados e alienados – uma mãe insana e um pai “capacho”). É uma “treinada” e deturpada moralidade social que critica a aparência perante o próximo (principalmente dentro de uma “pseudo” perfeita família). De estilo experimental, a narrativa inclui sonhos estranhos, epifânicos e de realismo surrealista a fim de traduzir estágios do subconsciente (como algo projetado) e de fornecer “dicas” prováveis de reviravolta, traduzidas por interpretações artificiais e forçadas (“sinto como uma péssima atriz me interpretando”, diz-se); e por desfechos ululantes, diretos e que não objetivam uma surpresa elaborada. Então, no elenco, temos uma mãe (a atriz Eva Green, de “Os Sonhadores”) louca e invejosa (que parece “Uma Mulher Sob Influência”, de John Cassevettes); um pai (a ator Christopher Meloni, do seriado “OZ”); a protagonista filha (a atriz Shailene Woodley, da saga “Insurgente” e de “A Culpa é das Estrelas”); a amiga “hetero e gorda” (a atriz Gabourey Sidibe, de “Preciosa”). A fotografia utiliza-se de cores vivas que parecem uma vida plástica de uma casa de bonecas - como o sofá rosa por exemplo. A “maturidade” dos adolescentes filosofa sobre o próprio meio (“Você arranha a superfície e têm mais superfície” ou que precisa “liberar a raiva para não quebrar igual à mãe”). O diretor imprime um ambiente 'Kitsch' gay (do amigo e das roupas da boate), principalmente pela música, que é como uma viagem lisérgica. É assumidamente simples e sem rótulos. Não é libertário, tampouco moralista, apenas transpõe a naturalidade do ser, apesar das hipocrisias (“sexo macho, primitivo, intenso com homens mais velhos e de peito peludo” – talvez buscando a segurança que não encontra no pai). E quem o conhece, fica esperando em qual instante a “relação homoerótica” acontecerá, explicando a resolução mistério já esperado. Um dos pontos altos do filme é a presença da trilha sonora, que inclui Psychedelic Furs; New Order; Depeche Mode; Siouxsie &The Banshees; Talk Talk; Tears For Fears; Echo and the Bunnymen; Love and Rockets; The Cure; Everything But The Girl; Soft Cell; Pet Shop Boys; Jesus and the Mary Chain, entre outras. Concluindo, um filme quase impossível de definir, e que por isso mesmo seja tão interessante e recomendado.