Por Fabricio Duque
Chega a ser impossível abordar
concisamente questões relacionadas ao novo filme da saga em quadrinhos, “Os
Vingadores – A Era de Ultron”, que se apresenta como uma epopeia metafórica,
não só por causa de seus cento e quarenta e dois minutos, mas principalmente
pelo “estudo” do comportamento do indivíduo quando inserido em uma sociedade
politizada. Se analisarmos resumidamente o que o gênero próprio da empresa
Marvel Comics (que mescla aventura ilusória por efeitos especiais com existencialismos
individuais) “criou”, então nós espectadores obteremos uma terapia cognitiva de
situações cotidianas e idiossincráticas. Aqui, a continuação mais uma vez é escrito
e dirigido por Jess Whedon (de “O Segredo da Cabana”, “Muito Barulho Por Nada”,
e das séries de televisão “Marvel's Agents of S.H.I.E.L.D.” e “Buffy – A Caça-Vampiros”),
o longa-metragem humaniza a trupe “super-heróis” que precisam salvar o mundo de
forças e de “quereres” inexplicáveis. A essência de cada um deles é respeitada
por cada um deles, que usa da picardia amigável para “zoar” particularidades,
exaltando o sentimento de equipe e que “a graça do ser humano está no erro e na
imperfeição”. O ponto alto de “Vingadores”, assim como suas vertentes e seus
personagens Capitão América (Chris Evans), Homem de Ferro (Robert Downey Jr.),
Thor (Chris Hemsworth), Hulk (Mark Ruffalo), Viúva Negra (Scarlett Johansson) e
Gavião Arqueiro (Jeremy Renner), é sem sombras de dúvidas o humor sarcástico e
perspicaz, que vem principalmente do “Iron Man” Stark, que por sua vez “abusa”
da liberdade de expressão a fim de “traduzir”, de forma simples, os medos,
limites, arrogâncias, egos, sensibilidades e características politicamente
corretas atuais (quando diz palavrão e “recebe” um “olhe o linguajar” do
Capitão América, figura que mais representa a patriótica esperança
incondicional dos Estados Unidos), expondo verdades e ou omitindo necessidades.
Além da trupe inicial, “entram” na trama: Feiticeira Escarlate – telecinese e
manipulação-projeção mental (Elizabeth Olsen); e Visão (Paul Bettany); e o
Mercúrio (o “Kick-ass” Aaron Johnson). O roteiro busca abrigo no gênero
catastrófico, de “extermínio” da humanidade, referenciando paralelamente
argumentos religiosos e de física quântica. O tema contemporâneo critica o
individualismo coletivo de nossos “próximos”, que são vistos se salvação.
Assim, deuses “máquinas” (“nascidos” com “ideias” do criador Homem de Ferro)
transformam-se em Deus para que a uma nova edificação aconteça ao recorrer
biblicamente a Noé, Pedro e o radicalismo pululante. Os “erros” dos humanos são
menosprezados pelas máquinas (de Inteligência Artificial), que com
superioridade (e sadismo) ditatorial “decidem” resolver as pendências mundanas,
em um claro exemplo ao filme “2001: Uma Odisseia No Espaço”. Mas a “união”,
mesmo não “harmônica”, tampouco equilibrada, mostra-se poderosa, inferindo que
por mais que esses vingadores pensem de forma diferente, a equipe da
“democracia” (enaltecida positivamente e como única solução à vitória) pode sim
vencer o “impossível”. Então, temos flashbacks explicativos das causas do
passado destes personagens; temos terapia psicológica; temos o conceito de
“família é a que escolhemos”; temos a política metafórica povo versus
“poderio”; temos mais uma vez Nova Iorque destruída (lugar escolhido para quase
todas as guerras do planeta); temos um novo “espaço” a ser “bombardeado”; temos
“menos” sensibilidades e “mais” aceitação das picardias desferidas (estão mais
fortes – mais “aptos” à sobrevivência do “bullying” sofrido); e temos o
antagonista (o robô vilão será interpretado por James Spader e construído por
Anthony Stark, com o propósito de neutralizar ameaças em potencial). Os
“Vingadores” transpassam imperfeições, carências, passionalidades, garras,
decisões. Estão mais “crescidos”, mais “adultos”, mais “maduros”. Outro ponto
interessante é a abordagem sobre as curiosidades. Para ajudar a esconder a
gravidez de Scarlett
Johansson, três dublês foram contratados. Isso causou muita confusão
entre os outros atores, já que, segundo eles, todas as mulheres dublês pareciam
muito com ela. Chris Evans afirmou
que chegou a um ponto onde ele iria dizer Olá e iniciar uma conversa com uma
delas, apenas para perceber a meio caminho que a pessoa com quem ele estava
falando não era Johansson. O quadrinho "Marvel Ultimates" é famoso
por apresentar um enredo incestuoso e controverso entre Mercúrio e Feiticeira
Escarlate. A trilha sonora marcante de Alan Silvestri (de “Forrest Gump”)
conduz com sutileza, sem clichê e sem manipular a emoção, e sim, funcionando
como pano de fundo técnico e narrativo. Concluindo, horas poderiam ser
debatidas sobre a segunda parte dos “Os Vingadores”. Portanto, não perca tempo
e assista ao filme.