Por Fabricio Duque
Vocês sabem sobre aqueles
agradáveis acasos que a vida nos proporciona? Pois é. “Dólares de Areia (Sand
Dollars)” é um deles. Caiu do céu no intervalo entre um filme e outro que
estreou Festival de Toronto 2014. O longa-metragem da Republica Dominicana,
dirigido pelos diretores (casados) Laura Amelia Guzmán e Israel Cárdenas,
apresenta um cotidiano extremamente realista, sensível, musical, lúdico, sóbrio
e natural. No elenco, a atriz Geraldine Chaplin (que está magistral) dividindo
a interpretação com outra atriz fantástica Yanet Mojica. As duas entregam-se a
esta obra de arte de sutileza temporal, construída sem ser clichê, sem ser
cafona e sem ser sentimental, apesar do tema abordado: uma senhora da terceira
idade (europeia) que se envolve (encantada) amorosamente com Noeli, uma jovem
local, bem mais nova, que se esforça
para sobreviver em uma economia que só dá espaço para a exploração. O
roteiro apresenta-se sendo apenas o que é: um retrato da sobrevivência versus a
superioridade da classe rica ao querer o diferente, fornecendo uma esperança de
vida digna para Noeli. Não se mostra o exótico, o caricato, tampouco o inconsistente.
Os espectadores vivenciam a sinestesia do momento por causa da câmera
intimista, da fotografia nostálgica e ensolarada (de um final de tarde de
férias) e das expressões concisas e econômicas de Geraldine. Nós sentimos as
angústias, os anseios, os amores, a tensão sexual, a iminente trapaça, o medo
do novo, a aventura, tudo, porém mitigando qualquer pudor possível, tampouco sem
levantar bandeiras críticas e repressoras, conservando a naturalidade das ações
realistas. Não há politicamente correto e nem o inverso. Na apresentação do
filme em Toronto, Geraldine calçava uma bota amarela, “provando” descontração e
a possível desconstrução interpretativa. Alguns irão rotular como gênero
gay-lésbico, inevitavelmente. Talvez essa seja apenas uma pequena vertente
exploratória da história. A mais importante, e a que devemos enaltecer é a
simplicidade de se viver um amor livre, liberal e sem idade predeterminada. Uma
deseja a “vontade”, a outra a “necessidade”. As duas buscam abrigo em suas
possibilidades oportunistas. Não há certo, não há o errado. Concluindo, totalmente
recomendado. Realmente agradeço ao Sandro (o produtor do filme) pela
oportunidade!