Crítica: Cinquenta Tons de Cinza

Por Fabricio Duque

“Cinquenta Tons de Cinza”, de Sam Taylor-Johnson, estreante na direção de um longa-metragem, e esposa de Aaron Taylor-Johnson (protagonista de "Kickass - Quebrando Tudo"), é lançado em 1090 salas de cinema do Brasil. Baseado no Best-seller de E.L. James, o filme pode ser chamado de tudo, menos de machista, visto que a parte "contratante" feminina domina o "homem" desde o início. Temos o sadismo inverso. A “presa” modifica seu dominador e os "cinquenta tons de cinza" das perversões dele, de "ser assim porque foi "criado" assim", utilizando-se das técnicas aprendidas de “desprezar” a atenção. Quanto menos “dava”, mais o “bilionário” queria. O espectador dá-se conta do grau de puritanismo disfarçado que há nos Estados Unidos. São limites suavizados em doses permitidas de "quebra" de conceitos politicamente incorretos. Assim, vemos o quanto problemática é a questão sexual. Não se pede aqui algo tão radical como a experiência visceral “120 dias de Saló”, de Pior Paolo Pasolini, ou tão psicológico como “A Professora de Piano”, de Michael Haneke, ou tão psicótico como “Ninfomaníaca”, de Lars Von Trier. Tampouco a “História de O.”, romance erótico escrito por Anne Desclos sob o pseudônimo Pauline Réage e publicado na França em 1954. Não. Mas também não ser pautado em hipocrisias “vendáveis” sociais. “Cinquenta Tons de Cinza” talvez seja uma análise “crucial” antropológica da sociedade atual, especialmente de suas mulheres. Talvez pelo tom “pessoal-perceptivo” da escritora e da diretora. Aqui, o que se explicita é uma vitória do feminismo. De escolha. Quase uma homenagem ao livro “Segundo Sexo” de Simone de Beauvoir (um estudo sobre a mulher na sociedade que faz uma análise, histórica, social e psicológica). Por um “contrato” inicial de estímulo ao prazer, que se “desestrutura” e assume a “sedução” intrínseca das mulheres, mostra-se um protagonista masculino “frágil” e com opiniões “massificadas” de extremismo. Christian Grey foi dominado, mas busca a própria redenção. Só que todas as metáforas implícitas – tentativas narrativas – “caem por terra” ao utilizar do circo midiático e do visual da nova cinematografia “puritana”. É um típico filme que gera risos alterados, dizeres na plateia como "estou excitada" – majoritariamente feminina (com amigas e ou com o namorado-marido). Não aprofundei o que ouvi. Talvez a “agitação” seja pelo dinheiro do personagem que tenta comprá-la ou por existirem mais e mais heterossexuais optando pelo mesmo sexo. Não há como não lembrar os filmes "Proposta Indecente" de Adrian Lyne, e ou de "Uma Linda Mulher" e ou o clássico “menininha” "Bonequinha de Luxo". É o mesmo argumento, em diferentes vertentes, mas é. No livro “Como a Geração ‘Sexo-Drogas-e-Rock´n´Roll’ Salvou Hollywood”, de Peter Biskind, o leitor-cinéfilo pode observar a transformação na conduta social americana. Se no classicismo cinematográfico, o menos era mostrado mais com sutileza que explicitamente, um pouco antes de agora, a naturalidade e “obsessão” pela realidade se fazia presente. Hoje, há um retrocesso narrativo. Mesmo com toda “liberdade” objetivada, os limites estão “retornando” ao culto pela moralidade e bons costumes. Tanto que Na Malásia, o governo baniu o filme dos cinemas por considerá-lo “sádico”, lugar que ativistas estão contra abusos cometidos contra mulheres. Anastasia Steele (Dakota Johnson) é uma estudante de literatura de 21 anos, recatada e virgem. Uma dia ela deve entrevistar para o jornal da faculdade o poderoso magnata Christian Grey (Jamie Dornan). Nasce uma complexa relação entre ambos: com a descoberta amorosa e sexual, Anastasia conhece os prazeres do sadomasoquismo, tornando-se o objeto de submissão do sádico Grey. Não é um filme sobre sexo. E sim romance. Não pode ser considerado um “exemplo” de sadomasoquismo, porque o objetivo inicial é deturpado. Tudo é consentido. Incluindo saídas ao cinema e “dormir de conchinha”. Quanto à música, “I Put a Spell on You”, regravada por Annie Lennox tenta “resgatar” o tom sexy sôfrego da versão original de Nina Simone ou pela experiência epifânica de Creedence Clearwater Revival (visto em “Saint Laurent”, de Bertrand Bonello.  Também não consegue. Continua sendo pop, adolescente e ingênuo. Conclusão, “Cinquenta Tons de Cinza” foi embalado polêmica, mas a surpresa “kinder ovo de ser” é a paixonite fantasiosa “Disney” de ser. Até o nome é parecido “Anastasia”.