Crítica: Homem No Banho

Por Fabricio Duque

“Homem no Banho”, de 2010, representa o longa-metragem mais explicitamente gay do diretor francês Christophe Honoré (de “Metamorfoses”, “Canções de Amor”, “Não, Minha Filha Não Irá Dançar”, “As Bem Amadas”, “Em Paris”), por causa da escalação no elenco do ator (forte, careca e peludo) pornô dos filmes do cineasta Bruce La Bruce, François Sagat e também pela condescendência da atriz “fetiche” Chiara Mastroiani. A trama tenta traduzir os efeitos da paixão, codependência, desespero, amor e distância em um relacionamento, fazendo com que Omar e Emmanuel provem a si mesmos que conseguem viver um sem o outro. Uma câmera (Sony Handcam) grava enquanto um homem fuma e observa outro no banho. O término do “casamento” homossexual é induzido ao espectador. Pelo sexo forçado, insensível e fugidio. Há afetação na dança do “bombado” enquanto a casa é limpa. Há nudez apelativa, clichê e caricata do corpo “vendido como escultura”. É kitsch, fútil e vazio (“Você é arte de segunda. O desejo é uma coisa muito estranha”, diz-se). Ele não tem nada para oferecer além do corpo. Falta química, doçura e compatibilidade. Aos poucos, entendemos o espírito crítico da narrativa, que confronta o meio gay com o principal elemento característico, intercalando-se novidades (outros relacionamentos recentes e um refinamento “desigual”), possibilidades fugazes e explicitas (relações passageiras) e com o amadorismo metalinguístico do personagem filmar-se (todo o tempo e sem puritanismos – uma felação, por exemplo). Há utopia sonhadora ao projetar encenações de personagens literários. Há liberdade, obsessão, ternura, telegrama ultrapassado, metáforas e música “Come Back Home”, indie rock recorrente do grupo Two Door Cinema Club. “Homem no Banho” é como se o diretor “explorasse” seu objeto de desejo “provando” o “instinto” pelos amores “plásticos e líquidos”, em que os quereres individuais e momentâneos, como New York, são mais importantes que “construção” a dois.  A revista Attitude disse que o filme é “uma meditação sensual sobre a forma masculina”. Concluindo, um “mockumentary” de uma pseudonaturalidade do meio gay.