Crítica: O Segredo dos Diamantes

“Tenho quatro filhas e sempre as levava ao cinema quando eram pequenas. Percebi que a maior parte da produção voltada para esse tipo de público era muito ruim. Foi então que pensei em fazer algo com um mínimo de sensibilidade. Em “O Segredo dos Diamantes”, quis tentar segurar as crianças na cadeira. Meu objetivo é fazer com que eles tenham vontade de esperar até o fim do filme para ver o que vai acontecer”, disse o diretor Helvécio Ratton.

Por Fabricio Duque

Uma dos deveres máximos no campo cinematográfico é o de respeitar a essência do gênero escolhido. Em seu mais recente filme “O Segredo dos Diamantes”, o diretor Helvécio Ratton (do documentário “Mineiro e o Queijo” e dos longas-metragens de ficção “Batismo de Sangue”, “Amor & Cia” e que trabalhou pela primeira vez com uma câmera digital), mineiro de Divinópolis, escolhe seu caminho da aventura e conduz até o final sem tentar ser algo diferente do que se é. Aqui se realiza um típico exemplo de direcionamento ao público infanto-juvenil. O filme está sendo considerado o “Goonies” (de Richard Donner) brasileiro, misturando “Harry Potter” com seus filmes anteriores “Menino Maluquinho”, “A Dança dos Bonecos” e “Pequenas Histórias”. Talvez, Helvécio, como bom mineiro, “apresenta suas tramas pelas bordas”, buscando a ingenuidade da nostalgia de “voltar entrando na máquina do tempo”, mitigando a pretensão mesmo quando se percebe a antinaturalidade dos diálogos. A narrativa foca na mensagem de se descobrir pistas, para que as peripécias de três amigos possam acontecer. A trama conta a história de Ângelo (Matheus Abreu) e seus pais, que  viajam para a casa da avó no interior de Minas Gerais, mas no caminho sofrem um acidente de automóvel. Por mais que Ângelo não tenha tido qualquer ferimento, sua mãe (Dira Paes) machuca seriamente a perna e o pai entra em coma, devido a um traumatismo cerebral. Diante da situação, Ângelo fica na casa da avó. A grande notícia das redondezas é a descoberta de um pequeno baú cheio de moedas e um manuscrito com um enigma (“Diário de Aventuras” para busca ao tesouro), supostamente deixado por um padre que, 200 anos antes, teria escondido um punhado de diamantes. Decidido a encontrá-los para pagar a cara cirurgia que seu pai precisa fazer, Ângelo conta com a ajuda de seus amigos, Julia (Rachel Pimentel) e Carlinhos (Alberto Gouvêa). O cinema de Helvécio é chamado de “além das montanhas”, pela biografia de Pablo Villaça. “O Segredo dos Diamantes” suaviza com elementos narrativos palatáveis, de fácil assimilação e sem complexidades. De certa forma, é direto, óbvio, sem momentos existencialistas aprofundados e com reações exageradas (forçadas) dos atores a fim de intensificar, surpreendendo pela reviravolta inesperada. Mas é para ser, visto que a classificação é livre e “destinado” à idade de pré-adolescentes de quatorze anos. Com gírias locais mineiras, antiquadas e pop (“Steve Jobs”); com a aura de “Castelo Rá-Tim-Bum”; com a didática de que “o segredo está nos livros” – principalmente “A Divina Comédia” de Dante Alighieri, divididos em “Inferno, Purgatório e Paraíso” (metáfora da própria vida), que une “a trindade”; com câmera de gruas e ‘travelling’; se com música tema “Poemas da Ilusão” de Samuel Rosa do Skank, “O Segredo dos Diamantes” busca conservar a inocência da infância, a pureza da simplicidade e a ideia de que “quando se é criança toda fantasia é real”. Exibido no Festival de Gramado 2014, o espectador ainda, guardando o ingresso do filme, pode concorrer a uma joia de grande valor no site oficial. Concluindo, um filme para toda família, mas logicamente direcionado ao público infanto-juvenil. Uma dica é o “adulto” “retornar” a própria infância e “olhar pelos olhos de uma criança”. “Ouvi a história dos diamantes durante as filmagens de “A Dança dos Bonecos”. Na época, conheci um senhor italiano chamado Seu Angelo, um ator que tinha feito cinema mudo na Itália, muito interessante, que parecia o Gepeto. Ele me contou uma história fascinante sobre como ele teria passado vários anos de sua vida correndo atrás de diamantes desaparecidos em Diamantina. O filme é uma síntese de tudo o que vi, ouvi e li. Adorava ler histórias de aventura quando eu era pequeno, livros do Monteiro Lobato, Tio Patinhas e muitas outras. Acho que canaliza isso tudo. O olhar ingênuo está lá, mas veio organicamente, na própria composição. Para embarcar numa aventura como a feita no filme, é preciso uma boa dose de ingenuidade. Acreditar nessas histórias, nessa busca ao tesouro, é vital. Minas é um pouquinho assim. Às vezes, quebra-se uma parede e é possível encontrar moedas de ouro. Queria colocar a essência da ingenuidade do Seu Angelo no filme. Vamos até lançar um game sobre o filme para ver se conquistamos as crianças. A história sobre um garoto em busca de um tesouro nos permite essa leitura. É um jogo que sintetiza a ideia do filme e deve atrair o olhar das crianças para o filme”, finaliza o diretor Helvécio Ratton.