Crítica: Cupcakes - Música e Fantasia

“Em todos os meus filmes havia um personagem soldado, mas não em “Cupcakes”. Sempre tive uma relação complicada com essa figura. É um tipo muito específico de homem: durão e difícil. Talvez essa relação esteja mais bem resolvida, então não preciso mais discutir e brigar com ela. Estou livre desse homem. Não é apenas uma comédia musical boba, é uma reflexão sobre o velho e o novo Israel. Há um sentimento de nostalgia pela música pop mais inocente, cheia de amor, menos cínica, e também por um mundo sobre comunidade e família. Israel era um país unido. Hoje, o mundo tem interesses diferentes”, disse o diretor Eytan Fox.

Por Fabricio Duque

“Cupcakes – Música e Fantasia”, o mais recente longa-metragem do diretor novaiorquino radicado em Tel Aviv, lugar que se mudou desde os dois anos de idade Eytan Fox, corrobora suas temáticas favoritas: o amor e a homossexualidade. Em seus filmes, o cineasta aborda as diferentes formas de se relacionar, seja pela política em “The Bubble”, pela guerra em “Yossi e Jagger” ou pela perda em “Yossi”. Mas sempre com o elemento esperançoso da mudança. Aqui, Eytan “respira” de suas críticas ao mundo e realiza uma comédia romântica, com moldes franceses (François Ozon) e estrutura kitsch (Pedro Almodóvar), mas sem o sarcasmo do primeiro, nem o excesso do segundo. “Cupcakes” opta pelo meio termo, conjugando realismo suavizado com naturalidade comportamental. Soa como versões americanas (mas sem tantos clichês e caricaturas), por exemplo, de “A Razão do Meu Afeto”, de Nicholas Hytner (só que aqui mais “polemizado” – por um professor primário dançar “travestido” na frente das crianças). Ou a belga de “Minha Vida Cor de Rosa”, de Alain Berliner ou o inglês “Delicado Atração”, de Hettie MacDonald. São referências e referências, dosados em um “caldeirão” de ingredientes próprios, alusão aos “fantásticos” Cupcakes (tradição da cultura americana). O roteiro traz ainda outra “influência” da terra do Tio Sam, os concursos musicais. Um grupo de amigos, em Israel, “idolatram” um grande festival de música. Na noite da competição, eles se reúnem para assistir ao programa televisivo. Dana (Dana Ivgy), que é confeiteira, faz Cupcakes para todos e dirige uma Kombi. Mas ela está triste e para animá-la, “interpretam” uma canção com amadorismo de uma felicidade desmedida e incondicional. Assim, o grupo se entusiasma e começa a articular se a música poderia competir no festival do próximo ano. A diversão “ganha” proporções e vai modificando um a um destes personagens, que se apresentam (perdidos nos quereres) inicialmente pela superfície para serem aprofundados (maturidade do futuro) ao longo da duração curta do filme. Trocando em miúdos, um filme fofo, despretensioso, de uma ou outra crítica à indústria do entretenimento. Foi selecionado nos festivais judaicos do Reino Unido e de Atlanta, além do Festival Internacional de Palm Springs. “Há dois diretores dentro de mim. Um é mais pesado e politizado. O outro é mais musical. Se eu tivesse o maior orçamento do mundo, faria um musical maravilhoso. Sim, eu amo Bergman e outros diretores mais “sérios”, mas o filme que eu levaria para uma ilha deserta é “Cantando na chuva”. Mesmo em “Walk on water”, meu filme mais bem sucedido, há algumas cenas que podem ser consideradas musicais. É o reflexo de um estado de espírito mais tranquilo e mais bem resolvido, porque já tenho 50 anos. Tratei de temas que já me machucaram, psicológica e politicamente. Agora estou interessado em simplesmente me divertir”, finaliza o diretor Eytan Fox.