Crítica: O Homem Mais Procurado

“Forcei o pobre rapaz do roteirista [Bovell] ir a Hamburgo e andar de bicicleta. Porque eu sempre penso em uma bicicleta ou a pé são as melhores maneiras de conhecer a cidade. Então fomos para lá e olhamos para lugares que nos interessavam - da justaposição entre a área de anarquista e as áreas muito ricas, já que é uma cidade incrivelmente rica.  Há muito poucos filmes feitos em Hamburgo. O cineasta Wim Wenders, com “O Amigo Americano” é o único que vem à mente. É um filme fantástico, mas até ele reconhece que Hamburgo é tão subutilizado. Eu acho que em um mundo após 9/11, que é tão polarizado, no entender de alguns governos de um por cento ruins é 100 por cento ruins”, disse o diretor Anton Corbijn. 

Por Fabricio Duque

“O Homem Mais Procurado”, adaptado do livro homônimo de John le Carré, autor famoso pelas tramas realistas de espionagem, representa o mais recente filme do diretor holandês Anton Corbijn (conhecido pela direção de videoclipes – incluindo U2, Nirvana, Depeche Mode, Roxette e Coldplay; pela cinebiografia “Control”, sobre Ian Curtis do Joy Division; e por “Um Homem Misterioso”, com George Clooney). Mas o “burburinho” maior era que o filme em questão aqui se configura como o último do ator Philip Seymour Hoffman, encontrado morto no dia 02 de fevereiro de 2014, devido ao consumo excessivo de drogas sintéticas. Podemos dizer que “O Homem Mais Procurado” é um fechamento com “chave de ouro” em sua carreira, que foi pautada na precisão detalhista de seus papéis e de suas interpretações. Aqui, a narrativa busca o gênero de espionagem de guerra, aludindo o estilo da série de televisão “Homeland”. Há negociações; planos estratégicos; “operações adultas”; situações limites; acaso definidor de tempo e consequências; e incursão investigativa (in loco) no mundo islâmico (a própria cultura, mesquitas, fontes e espiões). A edição ágil (complementada com a falta de trilha sonora na maioria do tempo), de naturalidade cotidiana, equilibra uma cadência narrativa, quase interativa pela câmera próxima e verborrágica, “rodeando” diversos personagens. Porém, aos poucos, a artificialidade “ganha” contornos ao se montar o quebra-cabeças “labirinto”, principalmente pelos diálogos superficiais (com um inglês extremamente técnico e estrangeiro – inclusive os de língua natal), que se “conduzem” por uma linha tênue de altos, baixos e quebra do equilíbrio. É aí que Philip mostra toda sua grandeza, concentrando a responsabilidade de se “andar na corda bamba” (até o final do filme). Ele não cede. Não desiste. E não delega. Usa os “olhos”, “ouvidos” e permanece “adepto das cavernas”. A fotografia sóbria e “pacifista” e de mensagem que a “não traição é um ato de amor”. Concluindo, um filme com preocupação demasiada na técnica e que contou com a sorte grande do talento nato de Philip Seymour Hoffman, mas que esqueceu da fluência narrativa de se aproximar da naturalidade realista. Depois de ser brutalmente torturado, um imigrante de origem chechena e russa faz uma viagem à comunidade islâmica de Hamburgo, tentando resgatar a grande herança que seu pai teria lhe deixado. A chegada deste homem desperta a curiosidade das polícias secretas alemã e americana, que passam a acompanhar seus passos. Enquanto a investigação avança, todos fazem a mesma pergunta sobre o imigrante: seria ele apenas uma vítima ou um extremista com um plano muito bem elaborado? Questionamento crítica já assumido da paranoia antiterrorista pós- 11 de Setembro. O diretor Anton Corbijn pode ser visto em uma pequena participação de cerca de um segundo. Durante uma conferência de imprensa mostrado em uma tela de TV, ele senta-se ao lado de Homayon Ershadi (Abdullah).