“Batguano” representa a mais
recente “experiência” cinematográfica do diretor-ator paraibano Tavinho
Teixeira (de “Luzeiro Volante” e que já atuou no micro seriado de televisão “A Pedra
do Reino”). Seu cinema tende à trilogia do “meta”: metafísico, metalinguístico
e metafórico, apresentando uma “viagem” de filosofia coloquial. Elementos
populares são personificados em um amadorismo proposital de desprendimento da
própria estrutura cinematográfica. O mais importante é o conceito. O que é dito
traduz seus personagens e os ambienta no limite do mundo caótico atual. A trama
é composta de dois protagonistas que “trocam” picardias e ideias surreais,
utópicas, sorumbáticas, catárticas, ingênuas, libertárias, revolucionárias,
amigáveis, sinestésicas, oportunistas, tediosas, psicodélicas e de efeitos
translúcidos. Um tenta “acordar” o outro. O existencialismo realista de uma
ficção científica subjetiva e individualista em um mundo próprio cria a
metáfora da contemporaneidade e sua latente intolerância. O filme acontece em um futuro sombrio pela
dupla inseparável Batman (Everaldo Pontes) e Robin (Tavinho Teixeira, o
próprio diretor), que moram em um trailer
afastado e vivenciam um relacionamento sem tabus, exceções, de sinceridade amorosa
e de carinho incondicional. Eles são repentistas do punk-rock e constatam que o
planeta Terra ficou pequeno demais a suas perfeições, genialidades e potências.
E assim, decidem encontrar seu lugar nas galáxias distantes. Este é
talvez um exemplo extremista do gênero inclassificável cinematográfico por
preferir a verborragia do texto autoral tão despretensiosa à forma estética da
apresentação. “Éramos então um só ser duplo vivo transformado com duas cabeças
pensando e logo nos tornamos símbolo da perfeição do novo ser em sua máxima
evolução e potência e desejo e vontade e expansão e começamos a viajar pelo
universo por todas as galáxias”, diz-se. Essa estranheza amadora e
antinaturalista confronta a própria mensagem objetivada, incomodando a zona de
conforto do público unicamente por se comportar livre das definições esperadas
e “necessárias” para se pontuar entendimentos. Seus personagens são andarilhos
cínicos de si mesmo, dois “super-heróis” aposentados em um trailer à beira de
uma rodovia do Nordeste, incompatíveis com um mundo vazio, fútil e de individualidade
coletiva e hipócrita. Gera-se uma visão “distante” e complexa da simplicidade
das críticas abordadas. É uma elucubração satírica da vida comum (quase uma
Comédia da Vida Privada abrasileirada) sobre a cultura contemporânea e seus
códigos populares e sociológicos. “Deixai o mais distraído dos homens mergulhar
em seus sonhos mais profundos: ponde-o de pé, movimentai-lhe as pernas, e ele
infalivelmente vos conduzirá para a água”, explicita-se a sinopse do filme
anterior “Luzeiro volante”, ajudando o direcionamento do discurso pululante. Concluindo,
é um filme extremamente interessante e curioso, quase uma “terapia venenosa”
anti-tédio, anti-loucura e anti-monotonia, de interlocução prática-teórica do Cinema Novo. Exibido
na Mostra Tiradentes 2014, integra a Mostra Competitiva do VI Semana dos
Realizadores.