Crítica: Batguano

Por Fabricio Duque

“Batguano” representa a mais recente “experiência” cinematográfica do diretor-ator paraibano Tavinho Teixeira (de “Luzeiro Volante” e que já atuou no micro seriado de televisão “A Pedra do Reino”). Seu cinema tende à trilogia do “meta”: metafísico, metalinguístico e metafórico, apresentando uma “viagem” de filosofia coloquial. Elementos populares são personificados em um amadorismo proposital de desprendimento da própria estrutura cinematográfica. O mais importante é o conceito. O que é dito traduz seus personagens e os ambienta no limite do mundo caótico atual. A trama é composta de dois protagonistas que “trocam” picardias e ideias surreais, utópicas, sorumbáticas, catárticas, ingênuas, libertárias, revolucionárias, amigáveis, sinestésicas, oportunistas, tediosas, psicodélicas e de efeitos translúcidos. Um tenta “acordar” o outro. O existencialismo realista de uma ficção científica subjetiva e individualista em um mundo próprio cria a metáfora da contemporaneidade e sua latente intolerância.  O filme acontece em um futuro sombrio pela dupla inseparável Batman (Everaldo Pontes) e Robin (Tavinho Teixeira, o próprio diretor), que moram em um trailer afastado e vivenciam um relacionamento sem tabus, exceções, de sinceridade amorosa e de carinho incondicional. Eles são repentistas do punk-rock e constatam que o planeta Terra ficou pequeno demais a suas perfeições, genialidades e potências. E assim, decidem encontrar seu lugar nas galáxias distantes. Este é talvez um exemplo extremista do gênero inclassificável cinematográfico por preferir a verborragia do texto autoral tão despretensiosa à forma estética da apresentação. “Éramos então um só ser duplo vivo transformado com duas cabeças pensando e logo nos tornamos símbolo da perfeição do novo ser em sua máxima evolução e potência e desejo e vontade e expansão e começamos a viajar pelo universo por todas as galáxias”, diz-se. Essa estranheza amadora e antinaturalista confronta a própria mensagem objetivada, incomodando a zona de conforto do público unicamente por se comportar livre das definições esperadas e “necessárias” para se pontuar entendimentos. Seus personagens são andarilhos cínicos de si mesmo, dois “super-heróis” aposentados em um trailer à beira de uma rodovia do Nordeste, incompatíveis com um mundo vazio, fútil e de individualidade coletiva e hipócrita. Gera-se uma visão “distante” e complexa da simplicidade das críticas abordadas. É uma elucubração satírica da vida comum (quase uma Comédia da Vida Privada abrasileirada) sobre a cultura contemporânea e seus códigos populares e sociológicos. “Deixai o mais distraído dos homens mergulhar em seus sonhos mais profundos: ponde-o de pé, movimentai-lhe as pernas, e ele infalivelmente vos conduzirá para a água”, explicita-se a sinopse do filme anterior “Luzeiro volante”, ajudando o direcionamento do discurso pululante. Concluindo, é um filme extremamente interessante e curioso, quase uma “terapia venenosa” anti-tédio, anti-loucura e anti-monotonia, de interlocução prática-teórica do Cinema Novo.   Exibido na Mostra Tiradentes 2014, integra a Mostra Competitiva do VI Semana dos Realizadores.