Por Fabricio Duque
Um dos representantes do
Novíssimo Cinema Nacional, que tenta a todo custo conservar a narrativa
autoral, estética, conceitual e mitigada dos gatilhos comuns da estrutura
comercial hollywoodiana, Marcelo Grabowsky realiza um caminho inverso. Estreia
logo de cara com um longa-metragem, “Testemunha 4”, baseada na peça “O
Interrogatório”, da autor alemão Peter Weiss, encenada durante vinte e quatro
horas na Casa de Cultura Lauro Alvim, em Ipanema, dirigida por Eduardo
Wotzik. O diretor do filme quis apresentar um “abuso” corajoso e até mesmo de
utopia ingênua, mesmo sabendo que poderia despertar a “pretensão”. Aqui, o
espectador observa bastidores ficcionais (já que os atores vivenciam –
obrigatoriamente – seus papéis durante o prazo das 18 horas de um dia às 18
horas do dia seguinte) em um labirinto metalinguístico por “conversar” teatro e
cinema. Marcelo também usa a estrutura Brecht de ser, porque procura suscitar
no leitor-espectador um juízo crítico frente a uma realidade, tendo os fatos
narrados tal como ocorreram, tentando-se desvendar o que há por trás daquilo
que foi dito. Quanto aos diferentes pontos de vista, “Testemunha 4” utiliza-se
dos variados ângulos de câmera a fim de captar “lados” da própria personagem.
Se analisarmos mais a fundo, poderemos perceber uma equipe técnica já
competente por seus currículos, Ricardo Pretti, Léo Bittencourt, Bernardo Uzeda
(entre tantos outros) e Carla Ribas (esta que imprime uma entrega visceral e de
pontuação cortante com ambientação teatral). O elemento “teatro” assume-se como
parte integrante do processo. Não se deseja uma naturalidade realista e sim uma
percepção ficcional da realidade abordada ao reconstituir histórias contadas. É
neste momento que a “responsabilidade” é despejada nos atores, ou
especificamente, nas “costas” da atriz protagonista. O filme, de ilusão
documental, prende-se ao monólogo, “completando” as lacunas com a mesma
personagem, ora por imagem, ora por voz. Procura-se captar a essência em sua
forma mais pura e cruel: impedir que o ator saia de seu papel, com depoimentos
dos sobreviventes do campo de concentração de Auschwitz durante o Tribunal de
Frankburt em 1965, repercutindo nos lados físico e psicológico da atriz. Com o
passar das horas o limite entre realidade e ficção fica cada vez menor, já que
não se sabe de onde vem o sofrimento e o cansaço, entre um pedaço de pão, um
banho, um cigarro. É “vendido” como gênero Documentário, porém é impossível
definir os limites. Como foi dito, o labirinto metalinguístico “engloba”
passeios a outras metalinguagens. Há teatro, cinema, ficção, documentário,
bastidores, atuação propriamente dita, público ora participativo, ora
espectador. O melhor que se pode fazer é não definir. Deixar esse “confuso”
gênero ser confuso, porque é daí que sua maestria vive.