Crítica: Por Uma Mulher

Por Fabricio Duque

“Por Uma Mulher” representa o novo filme da diretora Diane Kurys (de “Sagan”, “Aniversário – O Acerto de Contas”, “Depois do Amor”). Assim como seus longas-metragens anteriores, este também se configura como uma obra autobiográfica. Diane “tenta” resolver seu passado utilizando suas histórias como terapias cognitivas. No filme em questão aqui, busca-se a estrutura novelesca de época para contar uma trama “subjetiva” pelos olhos da narradora-filha que “traz a vida dos pais à vida” a fim de compreender e desvendar a própria existência. É um gênero épico, porque transpassa por épocas e acontecimentos históricos, logicamente adaptados com liberdade poética para que a fusão com a trama fosse possível. A diretora é francesa de Lyon e seus pais se divorciaram quando ainda era uma criança, mas se procura muito mais a estrutura comportamental italiana, adjetivando definitivamente seus personagens, fazendo assim que o sofrimento vivido aparentasse um romance. Desta forma, a narrativa é conservada na superfície, sem aprofundamentos realistas e ou melodramas sentimentais. Deseja-se apenas retratar uma história, um período, uma pessoal “investigação”. Ao contar, descreve-se em imagens, como uma reconstituição passando por Madame Bovary, Stalin, Nazistas, russos, cidadania francesa, judeu ucraniano, salvação de um campo de concentração, resignação ao adultério, liberdade de ser e de agir. Talvez, pelo excessivo discurso de mitigação dos confrontos, o filme parece embrenhar na normalidade previsível, “caindo” no gatilho comum dos temas repetidos no universo literário francês. Revirando as antigas fotos de família, Anne descobre uma foto antiga de seus pais, ao lado de outro homem. Ela acaba descobrindo a existência de Jean, irmão de seu pai, que todos acreditavam ter sido morto durante a guerra. Mesmo após o retorno surpreendente de Jean, todos questionam os motivos de sua sobrevivência: ele teria sido um traidor? Existem inimigos atrás dele? Enquanto convivem com este homem misterioso dentro de casa, a mãe de Anne, Lena inicia uma relação amorosa com o suposto cunhado. Para compor o seu papel, Mélanie Thierry usou como inspiração as personagens de Julianne Moore em “As Horas”, e de Meryl Streep em “As Pontes de Madison”. Já Nicolas Duvauchelle (de “Polissia”) estudou a história de caçadores de nazistas, através de livros fornecidos pela diretora. É um filme comum. Bem realizado, bem dirigido e com interpretações convincentes e ensaiadas, porém faltou a diretora uma dose maior de ousadia, de sair de sua zona de conforto, de resolver reviravoltas com maiores surpresas. Concluindo, “Por Uma Mulher” é um filme de momentos, de “aplicações” do perfume homônimo, de “traduzir” personagens com a ingênua cumplicidade da câmera e de “querer” abordar tudo em uma curta duração de tempo. Arriscado, amador, apaixonado, sincero e sóbrio. Talvez o grande detalhe seja o de não querer “captar” o espectador, apenas de “conjugar” imagens sobre uma determinada história. Como já foi dito, falta-lhe ânimo e ímpeto.