Crítica: Ida


Por Philippe Torres

Escolhido da Polônia para representa-la na premiação de melhor filme estrangeiro no Oscar do ano que vem, Ida se passa na década de 60 e conta a história de uma menina, cujo nome dá título ao filme, que esta prestes a fazer os votos ao celibato e converter-se em freira. Contudo, a madre aconselha que a personagem visite a única pessoa viva de sua família. Nesse momento a jovem descobre ser judia e seus pais mortos na guerra. A partir desse momento, Ida e sua tia saem em uma jornada em busca dos restos mortais dos pais. Então, permitindo que o filme seja dividido em dois, se tem na primeira parte um questionamento sobre a existência de uma divindade. Na verdade, a dúvida estabelece-se justamente na contradição da personagem em ser uma judia católica. Qual deus à tocou? De fato, criada na igreja, ela é representada pelo deus cristão. Contudo, se sua família judia não houvesse morrido, qual seria? – “E se você chegar lá e descobrir que deus não existe” – Diz a tia à personagem principal. São diversos os momentos que a película transmite tal ideia, por exemplo, no momento em que faz o símbolo da cruz ao enterrar os restos mortais dos pais judeus. Sabendo disso, é possível dizer que o longa-metragem se desenvolve a partir do uso de imagens expositivas, as palavras são pontuais, não se excedem. Mostrando isso, um diálogo bastante interessante para a explicação do dito acima é justamente quando Ida pede a presença de um padre no enterro e sua tia diz: “Você quer dizer, um Rabino”. Em um segundo momento, convivendo com sua tia, a personagem começa a permitir-se entrar no mundo “fora da caixa religiosa”, se permitindo libertar da opressão imposta pela mesma perante aos seus desejos. Mais uma vez o uso de palavras não se faz necessário. Tem-se uma vocalização das imagens, representada pelo véu da Noviça. O objeto é expressão de tamanha opressão, descoberta a cabeça, a menina entrega-se aos seus maiores desejos. Em termos de técnica, pode-se dizer que um texto apenas para a fotografia seria necessário para contemplar tamanha grandeza. O preto e branco, como conhecido, carrega consigo uma atmosfera oprimida onde os elementos da imagem representam também tal ideia – a neve, as arvores sem folhas e as casas de madeira, trazem culturalmente uma ideia de vazio à projeção. A razão de aspecto em 1.33:1, ou seja, um quase quadrado, reprime o espaço de atuação onde a câmera atuará e escolherá o que mostrar e, somado aos outros elementos já ditos, ampliará a claustrofobia presente. Complementando toda a simbologia que a imagem pode representar através da fotografia, o filme liberta-se da regra dos terços, fazendo com que, principalmente a personagem principal, seja apresentada no quadrado inferior, carregando nas costas todo o resto da atmosfera. A iniciante Agata Trzebuchowska, ao ter em mãos um roteiros onde as imagens dizem mais que as palavras, tem uma atuação através dos olhares, profundos, que ajudados por uma montagem extremamente funcional, dizem todos os desejos e ambições, mesmo que estes olhares pareçam sempre os mesmos. Definitivamente, se a academia não escolher esse dentre outros para a seleção final dos filmes estrangeiros, será um grande desrespeito a arte. Recomendadíssimo.