Crítica: Cantinflas - A Magia da Comédia

“Nossa intenção é dar a dimensão de quem foi Cantinflas”, “Imagine a dificuldade de alguém alcançar fama mundial nas décadas de 1940 e 50”, “Ele foi um inovador, natural e espontâneo”, “Quando chegou ao cinema fazia tudo diferente do que os outros atores faziam”, disse o diretor Sebastian del Amo.   

Por Fabricio Duque

Não é fácil a escolha do tom narrativo quando se opta por traduzir uma cinebiografia. Pode-se enaltecer unilateralmente o homenageado e ou abordar suas polêmicas. “Cantinflas – A Magia da Comédia” realiza uma representação sobre Fortino Mario Alfonso Moreno Reyes, o “maior comediante vivo” (dito por Charles Chaplin), e uma das maiores referências cinematográficas do México. A narrativa mostra uma fantasia nostálgica, quase de memória, contrastado por uma fotografia de cores vívidas. Intercala Los Angeles (no período de 1955 – e a fama de Cantinflas) e a Cidade do México (em 1931 – o início de sua carreira). O filme ambienta o glamour das estrelas de cinema como Elizabeth Taylor, Frank Sinatra (no piano), Marlon Brando, “El Indio” (moldura do prêmio Oscar) e até o próprio Chaplin, mas sem a preocupação de retratar fielmente proximidades faciais. “Cantinflas – A Magia da Comédia” foca no “caminho” de sucesso, sempre otimista e de amor incondicional por seu protagonista, mesmo quando trai a esposa querida (e volta atrás recebendo a aceitação total). Busca-se um lirismo onírico, mitigando o realismo coloquial e exacerbando uma superficialidade dos diálogos, ações e edição fílmica. Assim, a previsibilidade desmascara-se, tentando revisitar no início um humor Chaplin de ser e até uma sutil inferência aos nossos comediantes Mazzaroppi e Oscarito. Apenas uma longínqua lembrança. O humor de caricatura circense é experimentado em outras habilidades: pugilista, toureiro, palhaço, a maquiagem de negro (referenciando o filme “O Cantor de Jazz”), de enfrentar um “público animalesco” (adjetivado como exigente que “amou seu estilo”), de “receber” um satisfeito acaso ao ser “jogado na lama” por ter sido “seduzido” pela filha do chefe, tudo cria oportunidades ao seu sucesso. Tenta-se transpassar como um conto de Júlio Verne e seu “A Volta Ao Mundo Em 80 Dias”, que foi o grande projeto de Mario Moreno. Há ambientação romanceada de uma aventura biográfica, por monólogos de comédia situacional, buscando o “teatro de verdade”, mas sem deixar de lado a recorrente “improvisação” que fez de Cantinflas ser Cantinflas. “O garoto não sabe engatinhar, mas já quer correr”, adjetiva-se fraseadamente, entre alguns momentos de elipses metafísicas e um inglês falado de forma técnica, quase com sotaque estrangeiro (mesmo pelos “interessados” naturalmente americanos). Soa teatral, artificial, forçado e uma sensação de “preguiça” interpretativa. Mario Moreno e seu Cantinflas conseguiu autonomia: a liberdade criativa para improvisar e não seguir os roteiros dos filmes, talvez seja este um dos “empecilhos” a sua carreira internacional, conjugado com sua maneira de falar afetada e exagerada que fazia questão de não mudar. O roteiro novelesco usa e abusa de gatilhos comuns e detalhes sentimentais a fim de explicitar sua trama, como músicas metafóricas “A Vida é Um Palco” e seus “amigos” como “personagens sem coração” (estereotipados – como o presidente do sindicato que coloca o dedo no nariz). É uma pena a opção por sintetizar um amadorismo infantil, utilizando-se de todos os recursos possíveis para ganhar a estatueta do Oscar (visto que o filme é o indicado do México ao prêmio de Melhor Filme estrangeiro). A mensagem positivista (nada contra) finaliza a “conquista de Hollywood” e o prêmio de Melhor ator da edição 14 do Globo de Ouro por “A Volta Ao Mundo Em 80 Dias” (um filme de seis milhões de dólares), concorrendo com Marlon Brando, além de outros quatro Oscars. “Cantinflas” faleceu em 1993 e os créditos finais do filme em questão aqui, sonorizam um “Bolero de Ravel” como homenagem máxima. O longa-metragem é fantasioso, de caricatura exótica e “estúdio” demais. Falta ao diretor Sebastian del Amo (de “O Fantástico Mundo de juan Orol”,  ímpeto ao retratar o ator-diretor-humorista-comediante “orgulho mexicano” que “glorificou a sabedoria e a dignidade de nosso povo” e que “falava muito sem querer dizer nada”.