Crítica: Um Milhão de Maneiras de Pegar Uma Pistola [Por Philippe Torres]

Por Philippe Torres

Seth MacFarlane, depois do sucesso estrondoso nas bilheterias por seu filme anterior, "Ted", dirige agora o longa-metragem "Um Milhão de Maneiras de Pegar uma Pistola". Péssima tradução, mesmo que seu título original não seja tão melhor assim: "A Million Ways to Die in the West", ao menos aqui há relação com o que é apresentado. Conta-se a história de Albert (o próprio diretor), um pastor de ovelhas não muito é muito corajoso. Sua inconstante namorada, Louise (Amanda Seyfried), abandona-o depois que este foge de um duelo. Paralelamente, a misteriosa Anna (Charlize Theron) chega a cidade para acender a coragem no herói, mas este não sabia que ela era mulher do gatilho mais rápido do oeste. O objetivo é "zombar" com um gênero já estabelecido no cinema mundial, o western, e para isso há uma tentativa de se aproximar dos "modelos" de posicionamento de câmera, fotografia e atuações, não muito "arranjadas". A profundidade de campo reduzida do fundo destaca o personagem principal, o tornando embaçado. Dessa forma, consegue-se romantizar a cena, trazendo uma imagem “mais bonita”. Além do mais, prende-se a atenção do espectador nas piadas, que são importantes em um filme que objetiva ser nada mais que entretenimento. Contudo, ao optar pela técnica em questão, o diretor prejudica a presença da paisagem típica do faroeste norte-americano, com planos abertos a fim de demonstrar o cenário pouco romântico e, mesmo nos famosos "close up" do gênero, não há possibilidade de saber o lugar que "tudo aquilo" está acontecendo. A direção de arte e fotografia não parecem tão "preocupadas". Propositalmente ou não, estes cenários, frequentemente, assemelham-se aos sets de filmagem, sendo complicado ao espectador assimilar um grau de realismo ao que é apresentado. Obviamente, trata-se de uma comédia em que quase todos os “defeitos” citados de fato podem ter sido, sim, propositais. Resta saber se funcionam. As piadas são, definitivamente, o ponto forte do filme (e funcionam na maioria das vezes). É verdade que o modelo de comédia americano ainda conserva alguns "cacoetes": “flatulência”, “laxantes” e outras coisas do gênero, mas ao caçoar com as características sociais do oeste e dos filmes westerns, tem-se uma boa oportunidade para dar risadas. Há fotos de pessoas que nunca riem, o nome do personagem de Liam Neeson (Clinch Leatherwood), as maneiras de se morrer no oeste, uma linguagem que mistura os dias atuais com o século XIX e surpresas ao homenagear clássicos do cinema pop. "Um Milhão de Maneiras de Pegar uma Pistola" revela-se, então, uma boa surpresa para aqueles que esperavam um grande fracasso.