Crítica: Timbuktu

Por Fabricio Duque

“Timbuktu”, do diretor da República Islâmica da Mauritânia, na região do deserto do Saara, e o mais ativo da África, Abderrahmane Sissako, representa um retrato realista de uma aldeia de radicalismo islâmico durante o Jirah. Ganhador do François Chalais Award no Festival de Cannes 2014, o filme utiliza fotografia saturada ao brilho da luz refletida do lago e da noite de lua cheia. Segue a estrutura fílmica típica e interiorana das dunas nos filmes iranianos, mas edita o tempo natural, permitindo que o corte seja no movimento de uma "piscada". Vemos o argumento clássico com edição moderna que pede abrigo em outro filme iraniano "Separação" e na cinematografia de Michael Haneke e seu “A Fita Branca”. O longa-metragem conta sua história e prende realmente o espectador, talvez pelo controle da câmera, da poesia visual, da naturalidade interpretativa e da transposição de um objetivado amadorismo proposital com toques de documental, tudo com uma excelente encenação de todos, sem exceção. O “ultra” radicalismo determina que mulheres não podem mostrar nenhuma parte do corpo, que se deve respeitar a “casa de Deus” e a “rezadeira”, uma rebelde tipicamente com roupas coloridas, “aparentemente” em transe religioso, vivendo o tédio do tempo e a espera do nada. Entre casas de areia, “ensaios” de homens-bombas e uma “tentativa” de um poder organizado, os moradores da vila levam a vida seguindo regras ditatoriais e proibitivas do “não”. Sem futebol, sem música, sem sair de casa depois do horário estipulado, com chibatadas e morte por pedradas, eles experimentam a humilhação retrógrada e reagem com sensibilidade da resignação. A poesia do visual atinge a da narrativa, quando se imagina uma partida de futebol sem a bola e a dança masculina do balé. São zumbis que perpetuam massificações impostas e nunca questionadas.Foi sensação também no Festival de Toronto.