Por Fabricio Duque
O diretor pernambucano, Daniel
Aragão, que estreou com “Boa Sorte, Meu Amor”, um preto-e-branco “noir” que
ganhou o júri jovem no Festival de Locarno 2012, apresenta, no Cinépolis Lagoon, seu segundo
longa-metragem, “Prometo Um Dia Deixar Essa Cidade”, a uma plateia lotada, “provando” sua fama de “Cult” no cenário cinematográfico independente. Daniel, ávido por “long-plays”,
por filmes e pelas “melhores festas”, imprime uma “colagem referencial” no
filme em questão aqui, que se traduz como uma “fábula” psicotrópica de loucuras
“embutidas” e de reconstrução da “sanidade”, usando-se do outro “doido” como
base da narrativa objetivada. “Não vai ser melhor lá fora”, intima-se, logo no
início, e se complementa com experimentações estéticas (desfocadas, saturações
do branco) no melhor estilo Quentin Tarantino (principalmente em “Kill Bill”),
sem se esquecer da “homenagem” ao cinema dos anos setenta e a estrutura de “Vanilla
Sky”. Há também uma explícita referência a “Bicho de Sete Cabeças”, de Laís
Bodanzky, quando a personagem principal é internada em um hospital psiquiátrico
por usar drogas. “Prometo Um Dia Deixar Essa Cidade” quer realiza “algumas”
críticas: o lado “maquinário hipócrita” de uma campanha política; definições de
“amor e ódio” a Recife e “comparar” os efeitos das drogas (criando o conflito “desentendido”
de se revoltar com os remédios “aceitos” pela sociedade, se já eram usados outros
ilícitos), que tem como mensagem final, ser a mesmíssima coisa, como os
reguladores de humor (resolvendo faltas e excessos). A câmera “passeia” com
aproximação suave, captando uma atmosfera “Belair de ser” e insinuando um “mundo”
livre, sem pudores, “vivo” e por que não esquizofrênico. Não se poderia ter
escolhido protagonista melhor que Bianca Joy Porte, que está visceralmente sem
limitações, ressalvas e “pés atrás”. Entrega-se com tamanha força, intensidade
e “verborragia”, que não interpreta, mas é uma “louca doida” (roubando pedras de crack de um
garoto viciado), com máscaras do fingimento, co-dependências e delírios surtados
que confundem realidade e loucura. “Estiquei as curvas e fiz uma reta só”, finaliza-se. Produzido pela Cicatrix Filmes, e distribuído pela Figa Films, o mesmo de “Obra”, o filme acerta em
personificar na tela a perda dos limites sociais. É doido? Muito. E o resultado
funciona muito bem, talvez pela “coragem” e “rédea” de não simplificar,
retirando o espectador de sua zona de conforto e mitigando qualquer
possibilidade de volta. Não perca! E fique até o final dos créditos.