Crítica: O Doador de Memórias

Por Fabricio Duque

“Doador De Memórias” é o típico filme que utiliza aprofundamento narrativo conservando a essência comercial de estrutura “cinemão”. O segredo, talvez, seja a intercalação de metáforas do nosso cotidiano com ações características de um gênero de existencialismo social futurista. Logo de imediato, entende-se o que foi dito. A película é iniciada com uma fotografia (onírica, realista, de conhecimento, lúdica) preto-e-branco, mas ocasionalmente o "escolhido" vê, em “lampejos”, cores ("diferentes") embaçadas e em pequenos detalhes. As referências a outros filmes não param de "pipocar". Talvez a mais explícita seja "A Ilha", sem esquecer de "Jogos Vorazes", "Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças", "Elysium” e "Pleasantville - A Vida em Preto E Branco". A crítica social "aparece" com a retratação de um extremado politicamente correto. "Precisão da linguagem, por favor", diz-se com pragmatismo objetivado, assemelhando a percepção do espectador de uma seita massificada e repetitiva nas banalidades idiossincráticas. Pronto, outra referência, "A Vila", sem medos, violências e desejos, já que esses "moradores" não sentem, lembrando " A Hora de Voltar". O elenco inclui o vampiro Eric de “True Blood”, Alexander Skarsgård e a "nova" Tom Cruise, Katie Holmes. Aqui, há a cerimônia de premiação de melhor memória por "inteligência" e "coragem". A regra escolhe um que será o recebedor das memórias passadas de um ancião (guerras, diversões, tristezas) e assim ganha a "capacidade de ir além". "Você pode mentir", permite-se. Passa a ver a desculpa como "uma cortesia automática desnecessária", que junto muda a textura da cor. "Precisamos da mesmice", dando curiosidade e impulsividade a um jovem. Erro quase mortal de um sistema unilateral e repressor que "retira emoções profundas primitivas", que instaura sentimentos na superfície e que fornece uma iminente e inevitável rebeldia. Descobre-se um mundo que permite ao protagonista se sentir vivo. E a fábula (a jornada de Jonas) do crescimento (mostrando a verdade nua e crua) busca “traduções” até em sonhos, "uma combinação de realidade, fantasia, emoções e o que você comeu no jantar", intercalando imagens históricas documentais e caminhando à "sabedoria" e ao "sofrimento" por meio de uma psicodélica câmera lenta, quase microscópica. Outra metáfora. Jonas sai da caverna e encontra um deserto inteiro e aberto para explorar possibilidades. Logicamente, sem contar nada importante do filme, mas com obviedade já mencionada, não espere nada menos que uma liberdade poética de um final feliz. Só que isto não atrapalha. De jeito algum. Concluindo, vale a pena assistir. Como foi dito, um típico exemplo de filme que muda sua essência e expande vertentes. Outra metáfora.