Crítica: Deserto Azul


Por Fabricio Duque

Considerado “O Som ao Redor mineiro”, a ficção científica existencialista, futurista e "metafísica" de autoconhecimento lisérgico, que “procura” o universo do cineasta chileno Alejandro Jodorowsky, “Deserto Azul” apresenta-se como uma grande metáfora do nosso mundo moderno, “incompreendido”, de “sofrimento por esquecimentos”, de sonhos, desespero, correria, passado, futuro, perda da memória e vazios. O diretor Eder Santos, um vídeo-artista de renome internacional, e que possui obras em acervos permanentes do MoMA, em Nova York, e do Centre Georges Pompidou, em Paris, cria sua fábula tendo a câmera como sua principal cúmplice, acompanhando com leveza, despretensiosamente, a crise existencial do “eu” (para o protagonista) e “ele” para os outros. “Queria parar de pensar e transcender”, narra-se (pela voz do ator Angelo Antônio) e pela fotografia “solar” que “prolonga e completa” e que tem o “desejo de mover sempre e sempre”. A busca pelo significado de algum sentido na vida gera a individualidade crônica do ser humano, que “pinta de azul o deserto”, que “tenta” encontrar “festas” desconhecidas, academia de ginástica “Tron” de ser, que vivencia mesmices repetitivas (papos, conversas, procedimentos técnicos). Traduz-se quase uma filosofia egoísta “new age” do grupo islandês Sigur Rós, desencadeando a interação direta à câmera e a frases como “Medo é o preconceito dos nervos”, tendo apenas a “reflexão” como antídoto. Os “simbolismos” decretam uma estranha liberdade, com pessoas fantasiadas de espelhos, de bolos, “nuvens engarrafadas”, experimentação do silêncio, músicas na íntegra como videoclipes, referenciando “A Espuma dos Dias”, de Michel Gondry, “Ela”, de Spike Jonze e até “Nosso Lar”, pela estética das roupas. “Se eu sei alguma coisa sobre o amor?”, “Só do que eu sinto”, diz-se na versão apaixonante de “Santiago de Compostela”. É indiscutível que Eder Santos sabe muito de amor. E de cinema. Não Perca!