Crítica: Cavaleiros do Zodíaco: A Lenda do Santuário [Por Philippe Torres]

Por Philippe Torres

Em homenagem aos 40 anos de carreira do criador de Cavaleiros do Zodíaco, Masami Kurumada, a Toei Animation traz a produção de Cavaleiros do Zodíaco: A Lenda do Santuário, escrito pelo mestre aniversariante. Ousado. O mais novo longa metragem dos cavaleiros, além de ser realizado em animação gráfica, conta a história da saga de maior sucesso do anime em questão: A Saga Santuário. O desafio era grande, mais de 100 episódios reduzidos a 01h30min de filme. Dessa forma, para que o novo projeto pudesse dar certo, houve uma releitura da saga. Apesar disso, a “pressa” necessária para contar toda a história do santuário e cavaleiros deixaram alguns furos no roteiro. Os personagens principais, os cavaleiros de bronze, tiveram seus conflitos reduzidos a arquétipos. Shiryu, o inteligente. Hyoga, o calado. Shun, não gosta de lutar. Ikki, o lobo solitário amargurado. Seya, o “cool”. Não houve quaisquer menções ao passado dos personagens, importantes formadores de tais arquétipos. A construção de personagens parece ser uma falha não apenas entre os cavaleiros de bronze. Máscara da Morte de Câncer, o cavaleiro mais sombrio dos animes, aqui ganha outra conotação, completamente oposta. O mestre do santuário, para enganar os demais cavaleiros de ouro, utiliza uma falsa Atena, em um breve momento, um plano fechado nos da a entender que aquela é Shina de Cobra, mas a personagem jamais apareceria novamente. Houve releituras completas de personagem, como o cavaleiro Miro de Escorpião, ou será Amazona? Por outro lado, o filme consegue desenvolver-se bem, no primeiro ato, onde novamente é possível perceber uma releitura das histórias originais. Contudo, o segundo ato do filme, com certeza, é o que funciona melhor. No momento em que os Cavaleiros precisam passar pelas 12 casas do zodíaco, o filme utiliza-se de uma montagem paralela bastante interessante, intercalando batalhas dos cavaleiros de bronze entre as diferentes casas do santuário, distanciando a animação de um modelo parecido com “fases” de vídeo games, onde é usada uma montagem contínua, ou seja, os cavaleiros passariam casa a casa continuamente, como se estivessem derrotando os “chefões”. O alivio cômico é mais constante quando comparado ao anime, maior parte das vezes relacionados ao personagem de Pégaso, em certos momentos funciona bem, outros parece introduzi-los de forma forçada, não ajudando na narrativa e pouco influenciando na construção dos personagens. A direção de arte da animação traz também uma releitura. Temos aqui um cenário futurista, com armaduras ao mesmo estilo que funcionam muito bem, contudo, os elmos, ao fecharem-se por completo, atrapalham o desenvolvimento do processo de animação e diálogos que, somados a planos fechados, trazem uma sensação de estranheza no momento dos diálogos. A animação gráfica é muito próxima ao que é observado nos vídeo games, com claras referências aos filmes animados da série Resident Evil. O modelo facilita com que haja mais cenas de combate e menos diálogos demorados e sempre iguais, como acontecia no anime. É possível concluir que o sentimento nostálgico é garantido, contudo, é necessário que o fã do anime que completa 20 anos desde sua chegada ao Brasil, abra a cabeça para uma releitura que às vezes funciona e outras é bastante exagerada.