ESPECIAL: edt. com RICARDO MIRANDA

Por Fabricio Duque

EDT. (http://edt.org.br/) é a primeira associação de profissionais de edição audiovisual do Brasil. Formada por editores, montadores, assistentes de edição, atuantes no Rio de Janeiro, e estudantes da área do audiovisual, foi fundada em março de 2012, e atualmente conta com quase 200 associados em seu quadro social. O Cineclube edt. estreou suas atividades apresentando o filme “Idade da Terra”, de Glauber Rocha, na Cinemateca do MAM, no dia do aniversário de 32 anos da morte do diretor. Era desejo de Glauber que, a cada vez que o filme fosse exibido, a ordem dos rolos fosse aleatoriamente escolhida, o que não foi possível de se concretizar na época. Pois foi assim que ele foi exibido no MAM, aleatoriamente. Após a sessão, houve um animado debate com Ricardo Miranda, um dos montadores do filme, e Marta Luz, assistente de montagem.


Como uma homenagem póstuma ao mestre Ricardo Miranda, o Vertentes do Cinema, transcreve trechos importantes deste encontro único de “discutir filmes como esse de coragem e genialidade”. “Foram dois anos de montagem com a assistência da Marta, divididos em três montadores (Brasília, Rio de Janeiro e Salvador), 37 horas filmadas e 36 copiadas”, “foi um trabalho por estímulo”, “a versão final de 4h30min tornou-se 2h45min”, “no Rio de Janeiro foi a menor”, “Brasília teve um maior número de ‘planos sequências’”, “tentamos arrumar a bagunça do Glauber”, “era uma disputa para ver quem colocava o som mais alto”. Risos na plateia. Na época houve uma oportunidade no mínimo curiosa. “Assistimos ao filme mudo de seis horas no Méridien para sentir a alma do filme”, “foram ataques de prepotência”, não tendo “créditos de início tampouco no fim”. “Foi feito para passar de forma randômica”, “o projecionista escolheria a ordem dos rolos a cada sessão”, dentro de um “pensamento vitoriano”. “Era o caos”, porque “interferiria na montagem” e porque “havia sorteios de planos”. Mas a “Embrafilme colocou um letreiro”. “Não é o corte do diretor, macro (estrutura) ou plano a plano, era o corte do projecionista (que se comportava como montador e diretor final do filme)”. “Glauber mixou o filme sozinho com Nelson Ribeiro e tentou vendê-lo ao Coppola (Francis Ford)”. “Corte e costura é mais gostoso”, filosofia da época que fez a plateia gargalhar. “Foram dois anos de experimentação (de tudo)” e “som direto para o Glauber era inexistente”. Descanse em paz, Ricardo Miranda! Crie um cinema novo aí!